domingo, 3 de dezembro de 2006

Ó Vladimir...!


Num fim-de-semana de 3 dias em que nada de relevante se discute, para além dos 5/9 pontos que o F.C.Porto leva já de vantagem rumo à tradicionalmente fatídica época natalícia, eis que a comunicação social resolveu encontrar algo de mais forte para contar: as cirúrgicas eliminações de Putin.

Daí que me senti na obrigação de aqui divulgar a carta que lhe remeti na passada semana, pois isto agora já começam a ser mortes a mais, e há que ter o realismo de assumir que transcendeu o discreto núcleo de 2 ou 3 pessoas que estavam a par dos assuntos.

Caro Vladimir,
Desculpa, antes de mais, por estar a tratar-te tão formalmente, pois entendo que o conteúdo desta carta é demasiado sério para me dirigir a ti simplesmente por Vladi, como é habitual.
O episódio do Litvinenko, com pistas deixadas em aviões, em lençóis de hotel, em copos de restaurantes e em amigos italianos foge de todas as regras que a nossa empresa de consultadoria te passou, a ti e aos teus serviços, nas diversas consultas e acções de formação que demos até 2004, altura em que suspendemos a colaboração por achares que já não havia mais fundos vindos dos petro-negócios, para contratar consultores internacionais como nós.
Ó Vladimir, passaste imune em Setembro ao tiro que liquidou o vice-presidente do Banco Central da Rússia, que tanto te consumia a alma com aquela incómoda historinha da transparência no sistema bancário.
Ó Vladimir, talvez te tenhas também safado, em Outubro, daquela outra morte da jornalista que te massacrava com artigos de opinião sobre a guerra da Chechénia e sobre o teu estilo de governação.
Ó Vladimir, se calhar ainda te livraste de que te caísse em cima o dedo da acusação sobre o enusitado falecimento do teu infiel antigo primeiro-ministro Egor Gaydar, intrigantemente adoecido após uma singela viagem à Irlanda..
Mas, meu caro Vladimir, esta outra teatralização do ex-espião do KGB que sucumbiu ao polónio-210, desculpa que te diga, foi mesmo mal feitinha... Tanto folhetim, tantas cenas mal explicadas que passam de um dia para o outro, tantos testemunhos e confissões, até me faz lembrar uma telenovela infanto-juvenil que passa cá em Portugal, em que entra uma menina de saias às flores, uma bruxa má e mais uma cambada de bananas nacionais e estrangeiros.
Então em vez de mandares espetar-lhe um bom par de bananos na nuca ou largar um discreto piano de cauda quando ele fosse a passar em baixo de um qualquer edifício de Londres, deixas que o caso seja resolvido com substâncias radioactivas??? Não te lembraste de guardar uns rublos para renovar o plano básico de acções de formação dos agentes do KGB, com a inclusão de um curso de "Matança Discreta e Sem Deixar Rastos - módulo avançado" e um outro mais simples como "ABC dos Assassínios Rápidos Para Não Deixar Falar as Vítimas"?
Se tinha de ser mesmo uma liquidação radioactiva, lembrassem-se pelo menos de contratar um marginal dos subúrbios londrinos para lhe enfiar um transístor a pilhas pelas amígdalas abaixo! Ou então levá-lo para uma sala deserta e deixá-lo umas horas a ouvir a Rádio Festival ou o programa da manhã da Renascença!!!
Só tenho uma palavra para isto tudo: enusitado!
Por falar em enusitado, se isto tudo se tivesse passado nos Estados Unidos, caía o Carmo e a Trindade (quero dizer, Manhattan e o Empire State Building) e chamavam logo burro ao Bush, que é coisa que nunca ninguém se lembrou de fazer até agora.
Por isso, apelo, investe qualquer coisinha do teu orçamento de 2007 em mais formação para o pessoal do Kapa.
Continuando ao teu inteiro dispor para voltar a ajudar no que for preciso, recebe um cordial e amigoactivo abraço,
AndRocPinho

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