sexta-feira, 6 de outubro de 2006
España, España, España
Espanha é provavelmente hoje a potência europeia mais florescente de todas quantas fazem ou não parte da União Europeia. Membro do restrito clube dos cinco países com mais de 40 milhões de habitantes, se excluirmos apenas as orientais excepções de inquietantes nações como a Rússia ou a Turquia, possui um mercado interno com uma dimensão aquisitiva apenas comparável aos restantes “grandes”, Alemanha, Reino Unido, França e Itália. Precisamente por essa ordem de ideias e pela enorme outra razão de ser a única economia “mesmo aqui ao lado”, a internacionalização das empresas portuguesas com aspirações a tal tem, como etapa obrigatória, a sua espanholização.
De um modo quase unânime, o mercado espanhol é considerado, pois, o mais próximo, um dos maiores e um dos melhores que podemos ter pela frente. Sabendo que sempre foram próximos e numerosos, pouco importa escalpelizar por que razões os espanhóis se têm constituído num dos mais fortes países do “velho mundo”, muito menos comparativamente connosco, se exactamente por serem mais e muitos, se por terem tido melhores executivos democráticos, se quiçá por mais eficiente(s) ditador(es), por deterem um espírito mais pragmático, uma multiculturalidade mais diversa ou uma língua mais forte. Provavelmente, todos estes e outros factores, inerentes ou “acidentalmente” históricos, contribuíram para que Espanha se fosse tornando, sobretudo nos últimos 20 anos, no espaço económico com o mais acentuado ímpeto de fortalecimento na Europa, incluindo os seus vizinhos “do barraco do fundo”. Muito possivelmente só encontramos paralelismo semelhante em casos ainda mais recentes como a Irlanda e, aparentemente, algumas renascidas nações do leste europeu, como a República Checa ou a Eslovénia, com as “ligeiras” diferenças de que estes, por força da sua dimensão, nunca serão uma efectiva potência europeia, possuem difíceis afinidades comerciais para connosco e muitas linhas de fronteira de permeio.
Vender em Espanha e obter retornos financeiros interessantes estão perfeitamente ao alcance de muitas pequenas e médias empresas, como comprova a actividade recente de várias dezenas de sociedades de capital português.
Competir em Espanha com notoriedade e apoderar-se de importantes fatias de mercado não são tarefas impossíveis, que o digam a Compal, a Renova ou a Delta.
Mas estabelecer-se em Espanha aspirando a posições estratégicas pode requerer, para além de consolidados pressupostos comerciais e financeiros, elevadas doses de persistência e a necessária experiência directa q.b.. Vejam-se, por exemplo, os casos menos afortunados do início de internacionalização da Caixa Geral dos Depósitos e da venda de combustíveis da Petrogal. Admita-se ainda que a E.D.P., para além dos alegados constrangimentos relacionados com os actuais custos de produção de electricidade, e dos prováveis receios de declarar guerra aos seus concorrentes ibéricos, possa ter tido um acesso de bom senso ao eventualmente admitir não saber ainda como se espanholizar.
Na realidade, o facto de os negócios e os consumidores espanhóis serem muitos, bons e próximos pode fazer desembocar na ilusão de que bastará definir pontes comerciais e adoptar um mero plano de marketing, razoavelmente dotado de recursos de investimento, para neles triunfar. Para o evitar, é fundamental respirar Espanha e sentir o seu pulsar.
Sem falsos temores de pecar pela generalização, o espanhol é pragmático e directo na hora de escolher um produto ou contratar um serviço. O espanhol gosta de comprar barato, mas pode pagar caro. O espanhol gosta especialmente de comprar espanhol, mas não enjeita levar estrangeiro, desde que não sinta estar a preterir nacional. Estes serão provavelmente traços transversais dos espanhóis. Mas, “al final, pero antes de todo”, o espanhol não é simplesmente o espanhol; é sim o complexo somatório do castelhano, do andaluz, do asturiano, do aragonês, do cantábrico, do navarro, do valenciano, do canário e, requinte dos requintes, do galego, do catalão e do basco!
Daí que qualquer plano de marketing não pode deixar de ser delineado sobre um suporte que traduza a realidade de tal diversidade, sem prejuízo das menos abundantes características comuns. E que faz com que alguns espanhóis sejam bem mais directos e pragmáticos na hora da compra do que outros, que alguns gostem menos de comprar barato e possam comprar bem mais caro do que outros, que alguns gostem mais de comprar espanhol do que outros.
É, pois, compreensível que a profética frase produzida à época da posse do nosso actual primeiro-ministro sobre as prioridades da nossa política externa, “Espanha, Espanha, Espanha”, não tenha apenas pecado pela ausência de uma verdadeira sequência política palpável no pós-retórica, mas também pelo facto de se ter limitado a pronunciar a palavra “Espanha” apenas por três vezes.
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