domingo, 7 de janeiro de 2007

Egoísmo ou sacrifício

Infelizmente, muitos de nós temos histórias de infortúnios que levaram a sacrifícios pessoais, por erro, negligência ou inevitabilidade, obrigando a prosseguir na vida por causa da própria vida, a nossa e/ou a de outros. Daí que é injusto pensar que, apenas pelo facto de um embrião não ser visível ou de ter um grau de evolução menor do que um bebé maior, mereça menos esforço. Se se exprimisse, talvez não houvesse quem entenda que a lei seja a única defesa que pode ter, mesmo que não totalmente garantida.
Enterrá-lo enquanto não pode trazer grandes memórias é egoísta. Não tem essencialmente nada que ver com o altruísmo dos animais fêmeas que matam as crias nascidas quando o instinto lhes diz que não terão bons meios de sobreviver.

No nosso País, já não deverá haver cidadão que não conheça a origem da procriação, mas é temível que a nossa consciência cívica média não esteja ainda preparada para saber ler convenientemente os resultados de uma lei "Sim" (os países menos evoluídos, cívica e culturalmente, viram na mudançada lei os mais brutais aumentos no número de abortos).

É deprimente que a lei convide uma mãe a matar um bebé em gestação, em vez de a convidar a gerá-lo mais 6 ou 7 meses, e depois entregá-lo a quem lhe possa fazer bem, seja o pai, uma outra família, uma outra organização. Dar-lhe o direito de usar o caixote do lixo para se esquecer, e de evitar vir a ser confrontada com uma existência confrangedora, não estaria mal se não estivesse em causa uma vida, ou uma pequena forma de vida. Assim é irresponsável. Aliás, não foi sem a sua colaboração activa, com maior ou menor grau de negligência, que se gerou uma gravidez.
É abominável que o Estado se demita de directa ou indirectamente procurar dar um destino de vida a uma criança não desejada num dado momento (com melhores políticas de apoio à mãe, estimulando a sociedade a uma maior cultura de solidariedade, ou em alternativa, por exemplo, avaliando as condições de responsabilização do pai e a vontade de outros familiares, induzindo a adopção por outro casal, permitindo a intervenção de uma instituição, etc..) em vez de financiar uma pequena verba para se ver livre de um futuro cidadão que lhe pode dar um bocado de trabalho se nascer.

Não dar mais opções a uma cidadã que, num período curto de reflexão, entenda que não está disposta a educar uma criança, ou não a obrigar a pelo menos trazê-la ao mundo (já que nada nem ninguém pode fazer essa parte por ela), é cruel.

5 comentários:

Anónimo disse...

é cruel, é injusto, é egoísta. E o Estado, facilitista, comodista, irresponsável, pois claro!

Anónimo disse...

Há que ver o papel do pai. Não é ele que tem que tem que suportar o peso da gravidez, não é ele que tem essencialmente de enfrentar a sociedade, mas poderia ser ele que a assumir um compromisso histórico definitivo com o novo ser. Esta mudança de lei não contempla nem deveres nem direitos ao pai. Mas ele também teve responsabilidades na gravidez, deveria ter que assumi-las tanto como a mãe (tirando, por certo, as partes fisicamente impossíveis por natureza)e os mesmos compromissos. É errado colocar a decisão unicamente na mulher. Pior ainda é permitir-lhe o anonimato a qualquer custo.

Anónimo disse...

Cruel é deixar as mulheres serem carniceiramente esfaqueadas e andar de bloco em bloco a remendar os abortos mal feitos em clínicas clandestinas

AndRocPinho disse...

caro Miguel Alves, então, como vai sempre haver abortadoras, toca a mudar a lei! Assim, noutras leis, como vai haver sempre muita gente a violá-las, mudam-se?
Se for assim, é já para amanhã a legalização do tráfigo de droga, do tráfigo de armas, das fugas aos impostos (a começar de imediato pelas falsas despesas do IRS e do IRC), da prostituição em qualquer formato e de todos quantos roubem por terem dificuladdes económicas e precisarem disso para sobreviver (coitados, têm a vida complicada e podem passar por maus bocados...).
E o problema do ilegal e do clandestino resolve-se também com uma lei que permite o aborto só até às 10 semanas? As que deixam passar a gravidez até ás 11, 12 ou mais semanas já não podem abortar? E se houver quem o faça, vai aos carniceiros e depois anda de bloco em bloco? Ou há dúvidas que o aborto clandestino vai continuar para estes casos?

Anónimo disse...

Estranhamente, o acórdão 617/2006 do Tribunal Constitucional, que em Novembro passado verificou a constitucionalidade do referendo, começa por apresentar os projectos de lei que foram reprovados e ignora o 19/X/1 do partido socialista, que está subjacente ao referendo, aprovado em Abril de 2005.

Acontece que nesse projecto se propõe uma alteração ao Código Penal que contempla a exclusão de ilicitude do aborto “por razões de natureza económica e social” até às 16 semanas (cf. alínea c do nº1).

É patente a armadilha estendida ao cidadão votante no referendo: se as 10 semanas vencerem, a liberalização irá na prática até às 16, uma vez que as sobreditas “razões” económicas ou sociais não excluem “pedidos” e “opções”. Isto se o processo legislativo subsequente ao referendo não alterar nada, o mais provável uma vez que este expediente satisfaz mais que amplamente o que estava proposto nos projectos dos outros partidos de esquerda.

Urge denunciar e esclarecer a situação.