domingo, 26 de novembro de 2006

Sim ao Não

Neste debate, ninguém sai inocente. Com o extremar de posições, recorre-se a todo e qualquer argumento. É minha opinião que, num debate tão sobrecarregado como este, nenhum dos lados pode reclamar 100% de razão. Há argumentos válidos de um lado e de outro e, sempre que um dos lados se pretende reclamar dos 100% da verdade, cai-se nestes abusos em que se explora o caso miserável ou a situação extrema, em defesa de um dos lados. Pessoalmente, a minha balança inclina-se para o não, depois de pesados os vários e sérios argumentos de cada um dos lados. Recuso-me a dizer que os defensores do sim são uns apóstatas que devem ser excomungados, pois entre eles haverá alguns que ponderaram seriamente a questão e não foi de ânimo leve que tomaram a decisão que tomaram. Tenho menos respeito por aqueles que, de um lado e de outro, assumiram a sua posição só porque o seu partido ou a sua igreja a isso os mandaram. Menos respeito tenho ainda pelos pseudo-cientistas que, por trás dos seus pergaminhos académicos, tentam argumentar por um lado e por outro uma questão que não é científica, mas sim moral.
Pela definição científica de vida, um feto tem vida em qualquer fase do seu desenvolvimento, diga o campo do sim o que quiser. Mas também as unhas dos pés têm vida e não existe legislação que as proteja, diga o campo do não o que quiser. No final, a questão é: que protecção a nossa própria consciência atribui àquela forma particular de vida que ainda está no ventre da sua mãe? Não há respostas científicas que nos ajudem aqui. Cada um terá de encontrara sua própria resposta e respeitar as respostas que os outros encontram. Para mim, a resposta é que aquela forma de vida merece a nossa protecção e que esse valor se sobrepõe a todas as outras válidas considerações que com ela se cruzam ou mesmo chocam. Não tenho provas científicas, não posso argumentar mais do que ser esse o ditado da minha consciência, não me posso reclamar uma verdade superior à do campo do sim.Sei, porém, que no final o que vai contar, é o veredicto da história. Acredito que as sociedades e as culturas estão sujeitas às mesmas pressões darwinistas a que estão sujeitos os organismos vivos individuais. No caso das sociedades, o genoma está codificado no conjunto dos valores morais por que se rege a sociedade. Quem tiver um bom genoma, sobrevive. Quem tiver um mau genoma, sucumbe. Não é possível dizer à partida quem vai sobreviver, pelo que não é possível dizer à partida, quem está certo. Mas, no final, o veredicto da história dirá quais foram as sociedades que adoptaram o código moral que melhor lhes permitiu sobreviver como cultura autónoma.

Por José Luis Malaquias in bloguedonao.blogspot.com

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