Em duas notícias consecutivas no canal de TV que acompanho com maior regularidade, ouço falar no "ex-ditador chileno" Augusto Pinochet e no "líder cubano" Fidel Castro. Eis como duas peças aparentemente muito objectivas têm afinal o cunho de um editorial perverso. Nelas se insinua que existem tiranos maus (os "ditadores") e tiranos bons (os "líderes"). Esta dicotomia é jornalisticamente inaceitável. E é civicamente inadmissível. Como se a bondade de um tirano variasse ao sabor de acidentes geográficos ou ideologias políticas. Como se o octogenário Castro, que oprime Cuba há 47 anos, fosse moralmente superior ao nonagenário Pinochet, que oprimiu o Chile durante 17 anos. Como se não fossem afinal irmãos siameses, ambos obcecados até à náusea pelo poder absoluto e unidos pelo ódio que sempre devotaram à democracia.
Na imagem: Fidel Castro e Augusto Pinochet em Santiago do Chile (1971)
Título do autor: Quando um ditador se torna "líder"
por Pedro Correia in Corta-Fitas
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