Contratar uma empresa de consultoria especializada em marketing, comunicação e publicidade, certamente paga a peso de ouro e indesmentivelmente colocada em acção por adjudicação directa e de forma célere, que produziu uma plano de marketing e uma vastidão de painéis, brochuras, documentação virtual e artigos de merchandising, ao melhor estilo da política propagandística, foi o maior pecado cometido pelo Governo da República Portuguesa neste processo das 333 medidas “Simplex”.
De tudo o resto, só há verdadeiro lugar à congratulação. Haja determinação e sensibilidade de poder colocar convenientemente em prática os processos de intenção.
Na realidade, não seria totalmente previsível que um executivo dito de esquerda conseguisse ter a ousadia de propor um abrangente “esquema” de combate às desmesuradas complexidades das organizações e processos estatais, por muitas deficiências que tais “pacotes” possam parecer conter. Há que aplaudir, por muito receosos que possamos estar perante as hipóteses de que a prossecução de muitas das anunciadas decisões se esbarrem em problemas de inconveniência política de substrato ideológico.
As oposições só se podem tornar efectivamente confiáveis, ou, para usar um adjectivo ainda mais desgastado e suave, credíveis, se conseguirem ter a “capacidade de encaixe” de felicitar quem governa pelas propostas, iniciativas ou tomadas de decisão que vão de encontro às suas próprias orientações. Não se trata sequer de mera correcção na acção ou na palavra, trata-se até mesmo de real conveniência política em fazê-lo.
É fundamental ter a visão exógena do papel da oposição, para além da simples mas defensável lógica política de quem, batendo-se por ideologias, princípios e estratégias, se sinta mais capaz de levar ao País a uma melhor evolução do que quem tem essa responsabilidade no momento. Há também, pois, que vestir a pele dos eleitores e obter emprestado dos cidadãos o bom senso predominante numa sociedade como a nossa. Haverá algum português, que não esteja directamente envolvido nos processos de desburocratização ou de racionalização dos organismos do Estado, seja cidadão mais esclarecido ou menos instruído, que, em consciência, possa estar verdadeiramente contra os fundamentos de tais projectos? Só se a resposta for efectivamente positiva é que alguém poderá concordar com que a tónica das reacções a tais anúncios seja colocada nas aparentes imprecisões, lacunas ou inconsistências. Igualmente, destacar como questão central o aparatoso formato de apresentação, ou os inevitáveis “efeitos secundários” menos bons, não parecem servir eficazmente as próprias pretensões políticas de quem assim critica.
Ora, partidos como o veterano PCP e o jovem BE nunca tiveram outra postura senão a da crítica feroz e permanente, uns ao bom velho e estafado estilo Far West, outros num mais apetecível look do género Ninja. Daí que, desse quadrante, não se esperem laivos de lucidez que permitam conotar alguma pequena palavra de regozijo com um hipotético leve elogio ao Governo. Mas para quem já teve o ónus de governar o País e tem legítimas aspirações de médio-prazo a fazê-lo de novo, como os casos dos experientes PSD e CDS-PP, não deveria ser deixado o habitual termo “construtivo” apenas para os discursos de tomadas de posse enquanto elementos de oposição.
Ser oposição é evidentemente a benigna acção de criticar e de propor alternativas, nem pode ser transformado no contrário ou em silêncios, mas não deve ser esgotado nisso mesmo. Fazer de tal conduta o eixo fundamental de actuação de oposição não impede, de todo, que se reconheçam sem complexos os pontos em que as propostas dos adversários políticos vão de encontro ou se aproximam das próprias ideias. Sob pena de, desde logo, se dar por moralmente perdidas reivindicações de natureza semelhante que possam surgir mais tarde em papel governativo, pois não se pense que o próprio eleitorado se olvida totalmente de tais posturas. Sob pena, no fundo, de se estar a contribuir para complexar uma tarefa de reconhecimento de lealdade intelectual para com o País e que nunca pode deixar de ter importante expressão no dia dos próximos votos.
O belo “Simplex” não é simples, nem mágico. Simples e mágica é apenas a fórmula que foi encontrada para o mostrar à Nação.
Mas não será complicando demasiado a caminhada do “Simplex” logo à nascença que ganha a dita Nação, nem muito menos quem o critica.
quinta-feira, 6 de abril de 2006
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