domingo, 27 de abril de 2008

Direita por linhas tortas


José Miguel Júdice lançou, esta semana, a opinião sobre a existência de um “espaço aberto entre o PSD e o CDS, desejavelmente a preencher com o melhor de cada partido”. Entendo, muito pelo contrário, que esse espaço não existe, ou, a existir potencialmente, não pode ver reunidas, de forma alguma, as condições políticas mínimas para que ganhe vida a breve prazo.

A força do leque partidário presente encontra-se, na realidade, profundamente “desfalcada” à direita. Cada vez mais se torna notória não só a desideologização dos grandes partidos centrais, PS e PSD, cujos conteúdos programáticos acentuam a ausência de doutrina e de valores políticos, como agora também parece ser esse o caminho do CDS-PP. Pretendendo certamente seguir uma tendência internacional de pragmatismo eleitoral, que também tem passado pela bipartidarização dos votantes, na linha da boa tradição inglesa ou americana.
Mas mais ainda do que as questões da bipartidarização ou da desideologização, vemos que o chamado “espírito de direita” se está a extinguir em Portugal, o que, por si só, poderia ser um factor promotor de uma “nova direita”. Ou seja, dentro dos partidos parlamentarmente elegíveis, encontramos menos os valores de direita, ao contrário da esquerda, em que se verificam inclusivé áreas de pleonasmo entre PCP/CDU e Bloco de Esquerda. Ora, esse défice de valores de direita sucede exactamente porque os dois possíveis portadores da bandeira da direita – PSD e CDS – a deixam em casa simplesmente.
O PSD nunca se assumiu, em mais de 30 anos de democracia, como partido afectado por valores de direita, quando na realidade tem tido em segmentos de centro-direita a sua sustentabilidade eleitoral. Com Barroso, Santana, Menezes ou o(a) Sr. (a) que se segue, dir-se-á sempre um partido de base centro-esquerda, ou quanto muito do centro com influências neoliberais. Permanecerá olhando a sua real oportunidade no espaço à sua esquerda que o PS lhe possa permitir em cada momento, apesar da sempre indisfarçável vontade de se aliar, em caso de necessidade, com quem esteja à sua direita.
Do CDS ainda não vimos provavelmente toda a estratégia da actual Direcção, embora já tenha sido possível colher alguns sinais de que o pragmatismo e a desideologização já o contagiam também. Paulo Portas parece querer assumir para si a “receita de sucesso” dos dois partidos grandes e estará certamente à procura de espaço para, pelo menos, fazer coincidir o seu posicionamento com o do PSD, no caso de, mais ainda, não conseguir “ultrapassá-lo pela esquerda”, o que seria de um malabarismo ao alcance de poucos ou de nenhum. A ser assim, chamar-lhe-ia o terceiro grande erro da carreira política de Paulo Portas, depois da não quebra de coligação após saída de Durão Barroso e da sua prematura recandidatura à Presidência do CDS (que deveria, na mais breve das hipóteses, ter ocorrido por esta altura, e não em Maio de 2007). Os cidadãos votantes jamais lhe perdoariam tamanho esforço artificial de tentar conquistar posição eleitoral a “qualquer preço”.

No entanto, parece-me possível (não diria provável) que uma nova direita se reconstruísse após as eleições de 2009. “Bastaria” que o PSD continuasse a não acertar com um líder conciliador e que ambos os partidos tivessem resultados legislativos maus – menos de 6% para o CDS e de 30% para o PSD, a par da renovação da maioria absoluta socialista. Nesses cenários, e sem um líder “laranja” fortemente congregador do espectro PPD/PSD, não me custaria muito antever o estilhaçar dos dois partidos e a consequente geração de uma nova força assumidamente de direita, resultante da colagem de vários fragmentos, sem que contudo deixem de subsistir PSD e CDS.

Mais provável é mesmo que Sócrates se mantenha em governo maioritário, não sendo também de excluir, de todo, que os scores eleitorais à direita sejam suficientemente negativos para criarem as suas condições “estilhaçantes”. O facto que mais poderá então impedir o despoletar de uma nova força política à direita será a eleição de Rui Rio como Presidente do PSD após as legislativas de 2009.
E como aliás se pôde ver pelas movimentações recentes após a demissão de Menezes, essa eleição é altamente provável…

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