sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Sem "tomba-gigantes"
Nos jogos de futebol da Taça de Portugal, existem muitas vezes aquelas disputas desniveladas entre uma equipa de primeiríssimo plano e uma outra com recursos incomparavelmente inferiores. Sucedendo que, por vezes, estas últimas batem as favoritas, costuma a imprensa referir-se a elas como "Tomba-Gigantes".
Foi exactamente assim que cheguei a sentir se pudesse ter passado ontem nas eleições do CDS-Porto. Mas enganei-me.
E enganei-me pela simples razão de que a equipa favorita não apenas não se distraiu nem um minuto, antes e durante o jogo, como também, respeitando o mais possível o adversário, jogou todos os seus trunfos.
Encaixar uma derrota assim não custa.
O árbitro pode não ter sido totalmente isento, mas não terá sido por aí.
O campo estava um visivelmente inclinado para um dos lados, mas não terá sido por aí.
O treinador entrou dentro das quatro linhas, mas não terá sido por aí.
Os golos legais de um lado foram mais que os do outro e foi mesmo por aí.
Viva o espetáculo!
Foi exactamente assim que cheguei a sentir se pudesse ter passado ontem nas eleições do CDS-Porto. Mas enganei-me.
E enganei-me pela simples razão de que a equipa favorita não apenas não se distraiu nem um minuto, antes e durante o jogo, como também, respeitando o mais possível o adversário, jogou todos os seus trunfos.
Encaixar uma derrota assim não custa.
O árbitro pode não ter sido totalmente isento, mas não terá sido por aí.
O campo estava um visivelmente inclinado para um dos lados, mas não terá sido por aí.
O treinador entrou dentro das quatro linhas, mas não terá sido por aí.
Os golos legais de um lado foram mais que os do outro e foi mesmo por aí.
Viva o espetáculo!
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Allea jacta est
Votar B nas eleições concelhias do CDS Porto é dar um contributo à continuação da mudança. Pelo reforço da independência, pelo sublinhar da competência, pelo estímulo à transparência.
Tenhamos em conta que o ciclo eleitoral de 2009 foi muito favorável ao CDS, por méritos alheios à concelhia, por certo, mas seria por demais injusto não realçar o contributo empenhado e eficaz da Concelhia liderada por Miguel Barbosa nos sucessivos êxitos eleitorais do partido no Porto.
Há ainda a salientar o trabalho profícuo de captação de novos militantes e o início das dinâmicas de recuperação da participação de militantes mais afastados, de que são exemplo os dois plenários concelhios levados a cabo, que há muitos anos não sucediam.
Para quê mudar o que está bem no nosso partido???
Os compromissos da lista B são claros e razoáveis. (http://cdsportodefuturo.blogs.sapo.pt)
A lista B ainda pretende fazer bastante melhor, ultrapassada que foi a transição da CPC anterior.
Pela descentralização, pelo emprego, pelo atlantismo da cidade, pela cultura.
Votar nas eleições da maior concelhia do País é dar um contributo importante ao CDS.
Votar na lista B é um voto de não resignação!
Tenhamos em conta que o ciclo eleitoral de 2009 foi muito favorável ao CDS, por méritos alheios à concelhia, por certo, mas seria por demais injusto não realçar o contributo empenhado e eficaz da Concelhia liderada por Miguel Barbosa nos sucessivos êxitos eleitorais do partido no Porto.
Há ainda a salientar o trabalho profícuo de captação de novos militantes e o início das dinâmicas de recuperação da participação de militantes mais afastados, de que são exemplo os dois plenários concelhios levados a cabo, que há muitos anos não sucediam.
Para quê mudar o que está bem no nosso partido???
Os compromissos da lista B são claros e razoáveis. (http://cdsportodefuturo.blogs.sapo.pt)
A lista B ainda pretende fazer bastante melhor, ultrapassada que foi a transição da CPC anterior.
Pela descentralização, pelo emprego, pelo atlantismo da cidade, pela cultura.
Votar nas eleições da maior concelhia do País é dar um contributo importante ao CDS.
Votar na lista B é um voto de não resignação!
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Cara ou Coroa?
Tento um execrcício algo difícil: tentar-me colocar no papel do militante CDS do Porto, sem directo interesse nem especial afecto por nenhuma das listas concorrentes ao acto do dia 26.
Quem é Miguel Barbosa? militante dedicado com provas dadas como dirigente da JP
Quem é Pedro Moutinho? militante dedicado com provas dadas como dirigente da JP
Qual a principal referência de MB no partido? Paulo Portas
Qual a principal referência de PM no partido? Paulo Portas
O que pretende MB? Dinamizar o CDS no Porto
O que pretende PM? Dinamizar o CDS no Porto
O que acha MB dos resultados no Porto do ciclo eleitoral de 2009? Bons
O que acha PM dos resultados no porto do ciclo eleitoral de 2009? Bons
No essencial, tudo os une.
No pormenor, várias coisa os separam. Sobretudo, no estilo. Miguel Barbosa é um homem de terreno, de trabalho oculto, de pragmatismo. Pedro Moutinho é um homem de verbo, de trabalho evidenciado, sem menosprezo pela componente comunicada.
Entre estes dois perfis diferentes, e também na tipologia das equipas que apoiam ambas as candidaturas, se joga a decisão do militante. Uma que acompanha, apoia e questiona a Câmara Municipal. Outra que acompanha, apoia e apoia a Câmara Municipal...
sábado, 21 de novembro de 2009
B de Brilho
O CDS Porto vai a votos na próxima 5.a feira, 26/11.
Esperemos que a data de há 35 anos se repita, como o dia em que a liberdade se ajustou ao seu nível recomendável.
Desta vez, só no Porto. Desta vez, sem Eanes ou outros Tenente-Coronéis, mas com o civil Miguel Barbosa à frente do partido na cidade.
Estou com ele. Pela positiva e contra ninguém. Apenas contra o facto de ver a "família" dividida por razões que deveriam ser bem menores do que a unidade. E, finalmente, também estou contra a eventualidade de ver alguém que se dedicou com honestidade a uma causa ser desfiado a abandonar pela intransigência (fundamentada ou não) de "irmãos" seus.
No fundo, nada de essencial divide listas A e B. Para quê mudar quem dirige? Afinal de contas, todas vitórias importantes têm sido alcançadas, ou não?
O faroleiro vota B, porque não tem dúvidas que se Barbosa ganha, o CDS-Porto terá mais brilho..
Esperemos que a data de há 35 anos se repita, como o dia em que a liberdade se ajustou ao seu nível recomendável.
Desta vez, só no Porto. Desta vez, sem Eanes ou outros Tenente-Coronéis, mas com o civil Miguel Barbosa à frente do partido na cidade.
Estou com ele. Pela positiva e contra ninguém. Apenas contra o facto de ver a "família" dividida por razões que deveriam ser bem menores do que a unidade. E, finalmente, também estou contra a eventualidade de ver alguém que se dedicou com honestidade a uma causa ser desfiado a abandonar pela intransigência (fundamentada ou não) de "irmãos" seus.
No fundo, nada de essencial divide listas A e B. Para quê mudar quem dirige? Afinal de contas, todas vitórias importantes têm sido alcançadas, ou não?
O faroleiro vota B, porque não tem dúvidas que se Barbosa ganha, o CDS-Porto terá mais brilho..
Morreu... E viva o Farol!
Na Margem Direita permaneci durante uns tempos enquanto abandonava este solitário farol. Chegou a ser bom, e chegou a parecer tão sério como os propósitos do seu ideólogo, o Miguel Barbosa, Presidente do CDS-Porto. Mas cumpriu a sua missão com algum entusiasmo inicial e morreu...
Depois disso, entrei na Rua Direita. Foi bom. Foi útil. Venceu. Parabéns ao Adolfo Mesquita Nunes e aos outros que intensamente participaram, esgrimindo-se com o Jamais laranja e o Simplex rosa.
Eis-me de volta à guarda solitária do meu farol...
Convido-vos a mandarem as vossas flashadas!
André Rocha Pinho
Depois disso, entrei na Rua Direita. Foi bom. Foi útil. Venceu. Parabéns ao Adolfo Mesquita Nunes e aos outros que intensamente participaram, esgrimindo-se com o Jamais laranja e o Simplex rosa.
Eis-me de volta à guarda solitária do meu farol...
Convido-vos a mandarem as vossas flashadas!
André Rocha Pinho
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Nasceu!
Por uns tempos, é natural que fique um pouco agarrado a esta margem. E portanto talvez menos atento às radiações deste farol....
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domingo, 31 de maio de 2009
terça-feira, 12 de maio de 2009
Margem Direita
Portugal e, em particular, a região do Porto, vivem tempos de grande adversidade e angústia. Tempos, contudo, para os quais não podemos olhar com receio. Devemos antes ter a capacidade de descobrir as oportunidades que desafios como os que enfrentamos não podem deixar de encerrar. As oportunidades descobrem-se com criatividade e, sobretudo, com o contributo de todos.
Reconhecemos que muitos dos que pensam à direita não encontram no compromisso da militância activa um veiculo para o importante contributo cívico a que estão singularmente habilitados pelos seus percursos e pelas suas ideias. Inconformados, decidimos abrir esta janela ao contributo de todos aqueles que, à direita, se vão mantendo à margem.
A Margem Direita será, portanto, o testemunho do compromisso do CDS: valorizar a indepêndencia dos que aqui escrevem e reconhecer que a única filiação que professam é a das ideias que aqui nos deixam.
Reconhecemos que muitos dos que pensam à direita não encontram no compromisso da militância activa um veiculo para o importante contributo cívico a que estão singularmente habilitados pelos seus percursos e pelas suas ideias. Inconformados, decidimos abrir esta janela ao contributo de todos aqueles que, à direita, se vão mantendo à margem.
A Margem Direita será, portanto, o testemunho do compromisso do CDS: valorizar a indepêndencia dos que aqui escrevem e reconhecer que a única filiação que professam é a das ideias que aqui nos deixam.
Em breve, o blog!
domingo, 10 de maio de 2009
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Desemprego, dia 5 de Maio (parte II)
É muito difícil, para não se dizer impossível, encontrar respostas-soluções para o inverter da tendência de subida da taxa de desemprego sem que antes se compreendam bem as suas causas.
Neste aspecto, alinho-me inteiramente nas teses de Silva Lopes, defendendo que existe uma clara perda de competitividade das empresa nacionais em virtude do não aumento proporcional da produtividade relativamente ao custo do trabalho. Na realidade, como se pode compreender que o nosso Governo desecadeie um aumento de 4% nos salários em 2008 quando estava tão bom de ver que a produtividade tem aumentado muitíssimo menos do que isso por ano? Aliás, em 2008, a produtividade aumentou uns exactos 0%! Já não compete, a este nível de análise, relamente indagar os motivos de tais medidas, mas aqui importa reter as consequências delas...
O CTUP (Custo de Trabalho por Unidade Produzida) foi de 19% em Portugal e 14% na União europeia, entre 2001 e 2007, enquanto que a produtividade nacional cresceu 4,6% e a produtividade europeia subiu 6,2%. Assim, podemos ver que, nesta década, grandes atropleos económicos foram cometidos a nível europeu - uma diferença de quase 8 pontos percentuais entre o custo do trabalho e a produtividade, em prejuízo da competitividade das empresas do velho continente. Mas maiores foram ainda os atropelos no nosso País, pois a diferença entre ambas foi de quase 15%!
Como pode uma economia sobreviver com tamanhas disparidades entre o preço do seu trabalho e a sua eficiência? A resposta a esta pergunta é bem mais clara do que no primeiro caso formulado - não pode! Com o PIB a decrescer em 2009 (4%, segundo o FMI) e em 2010 (mais 0,5%, também segundo o FMI), a resposta é mesmo clara - não pode mesmo!
Então como resolvemos o problema do desemprego?
Voltamos à questão difícil, mas, sem mais delongas, julgo que se deve implementar um "mix" de soluções, sem complexos idelologistas (o que nem sempre é fácil em períodos pré-eleitorais...), bem combinadas, sem ter necessariamente de todas elas percorrer, ao bom estilo "à la carte":
- investimento público claramente estruturante, que não promova apenas pontualmente o emprego, mas que assente em projectos com retorno económico a médio e longo prazo e geradores de emprego nessa perspectiva;
- flexibilização da legislação laboral na óptica da facilitação da contratação e da própria "descontratação", de forma a tornar as empresas mais maleáveis e competitivas no combate aos períodos negativos e de recessão, e fazendo com que o mercado de trabalho seja mais vivo, mais ágil e com empresas mais acutilantes e competitivas, e, portanto, a economia mais saudável, mais pujante e... mais empregadora!;
- maiores e melhores apoios à contratação, previlegiando ou não grupos com maiores índices de desemprego (tais como jovens ou desempregados com mais de 45 anos), através da isenção ou redução de contribuições, cotizações e taxas por parte das empresas, durante um período de tempo alargado;
- aperfeiçoamento e intensificação das medidas de apoio à criação do próprio emprego, fomentando o empreendorismo, tal como o programa ILE (Iniciativa Local de Emprego), no qual se antecipam os montantes do subsídio de desemprego, por parte do IEFP, desde que comprovadamente aplicados na constituição de emprego próprio;
- revaliação do espírito de atribuição do subsídio de desemprego, através do aperfeiçoamento das fórmulas no sentido de previlegiar os que consigam emprego mais rapidamente, seja através da atribuição de prestações decrescentes do subsídio de desemprego mensal, seja através da obrigatoriedade da prestação de trabalho comunitário a partir de um determinado número de meses em desemprego, ou outras "reformas" com o mesmo propósito;
- equacionar políticas de redução salarial a par com a redução do número de horas mensais prestadas à entidade empregadora por parte de trabalhadores efectivamente empregados;
- equacionar formas de compensar perfis de trabalhadores com interesse à economia nacional de menor prioridade, tais como soluções de reforma e pré-reforma antecipadas para trabalhadores mais idosos, subsídio de compensação à libertação de postos de trabalhos para cidadãos nacionais, etc..
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sexta-feira, 1 de maio de 2009
Desemprego, dia 5 de Maio
No Sociedade Civil de 5 de Maio, (terça-feira), abordardar-se-á o tema "Desemprego – que soluções?".
Todos os meses são batidos recordes de trabalhadores “dispensados”.
Em Portugal, o panorama não é diferente. Quase todas as edições de jornais diários têm notícias de empresas em dificuldades e de despedimentos. Até 2010 prevê-se que o número de desempregados no país ascenda aos 620 mil.
Numa altura em que o o FMI assegura que a taxa de desemprego vai subir de 7,6% para 9,6%, já este ano, quais as soluções para o maior problema social dos últimos tempos? Será que os incentivos à contratação promovidos IEFP terão o resultado pretendido? E o lançamento de mais obras públicas travarão o aumento do desemprego?
As respostas que todos os portugueses querem ouvir, no Sociedade Civil.
Convidados
Francisco Madelino, Presidente do Instituto de Emprego e Formação Profissional
André Pinho, Vice-presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários
Pedro Lains, Economista Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
Rogério Roque Amaro, Director da ANIMAR
Notas conteúdos
O programa Sociedade Civil é conduzido e apresentado pela jornalista Fernanda Freitas e emite em directo. Conta com quatro convidados e reportagens jornalísticas sobre o tema. O programa visa esclarecer e fornecer soluções úteis e inovadoras aos cidadãos sobre temas que estejam na ordem do dia: cidadania, educação, saúde, alimentação, justiça, sociedade, entre outros.
Em http://www.sociedade-civil.blogspot.com/
O programa emitido estará disponível logo depois da emissão em http://multimedia.rtp.pt/.
Todos os meses são batidos recordes de trabalhadores “dispensados”.
Em Portugal, o panorama não é diferente. Quase todas as edições de jornais diários têm notícias de empresas em dificuldades e de despedimentos. Até 2010 prevê-se que o número de desempregados no país ascenda aos 620 mil.
Numa altura em que o o FMI assegura que a taxa de desemprego vai subir de 7,6% para 9,6%, já este ano, quais as soluções para o maior problema social dos últimos tempos? Será que os incentivos à contratação promovidos IEFP terão o resultado pretendido? E o lançamento de mais obras públicas travarão o aumento do desemprego?
As respostas que todos os portugueses querem ouvir, no Sociedade Civil.
Convidados
Francisco Madelino, Presidente do Instituto de Emprego e Formação Profissional
André Pinho, Vice-presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários
Pedro Lains, Economista Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
Rogério Roque Amaro, Director da ANIMAR
Notas conteúdos
O programa Sociedade Civil é conduzido e apresentado pela jornalista Fernanda Freitas e emite em directo. Conta com quatro convidados e reportagens jornalísticas sobre o tema. O programa visa esclarecer e fornecer soluções úteis e inovadoras aos cidadãos sobre temas que estejam na ordem do dia: cidadania, educação, saúde, alimentação, justiça, sociedade, entre outros.
Em http://www.sociedade-civil.blogspot.com/
O programa emitido estará disponível logo depois da emissão em http://multimedia.rtp.pt/.
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sábado, 25 de abril de 2009
35 de Abril!
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Recibos verdes com emoções ao rubro
Apesar de azulados na aparência, os chamados “recibos verdes” têm estado bastante em voga como arma de discussão acerca da tão propagada precariedade de trabalho. Efectivamente, nenhum observador, politicamente neutro e responsável, pode concordar em boa verdade com a utilização sistemática e generalizada destas figuras de formalização da prestação de trabalho dependente como um trabalho independente.
Porém, todo o ónus da responsabilidade destes actos de “contrato de trabalho virtual” recai geralmente sobre os empresários, fazendo praticamente crer que o acto de vínculo por “recibos verdes” não é feito sem necessidade de mútuo acordo com o trabalhador. Parte que, aliás, terá todo o espírito da lei e o sistema judicial do seu lado, se motivo houver para provar que está a ser abusivamente tratada como dependente.
Esta é uma primeira das falácias com as quais se discute na praça pública a suposta imoralidade dos empregadores no tão badalado uso e abuso dos “recibos verdes”.
No entanto, há diversas outras questões que normalmente não são enfatizadas e que se podem traduzir em formulações como as seguintes:
Porém, todo o ónus da responsabilidade destes actos de “contrato de trabalho virtual” recai geralmente sobre os empresários, fazendo praticamente crer que o acto de vínculo por “recibos verdes” não é feito sem necessidade de mútuo acordo com o trabalhador. Parte que, aliás, terá todo o espírito da lei e o sistema judicial do seu lado, se motivo houver para provar que está a ser abusivamente tratada como dependente.
Esta é uma primeira das falácias com as quais se discute na praça pública a suposta imoralidade dos empregadores no tão badalado uso e abuso dos “recibos verdes”.
No entanto, há diversas outras questões que normalmente não são enfatizadas e que se podem traduzir em formulações como as seguintes:
- Que outra opção terá um empresário disposto a contratar, quando dispõe de um período máximo de 3 anos para verificar a aptidão, a responsabilidade e o potencial de evolução e de estabilidade de um futuro colaborador, em regime de contrato a termo certo, e para avaliar se se adequa a qualquer que seja a função, sendo que, após isso, a mantê-lo, terá de considerar um contrato “para toda a vida”, sem possibilidade real de o dispensar quaisquer que sejam as alterações na empresa, na macroeconomia ou no desempenho do próprio empregado?
- Que alternativa tem um empresário, sabendo que necessita de um reforço pontual de trabalho, e que só lhe será permitido vir a rever a sua posição em relação à aceitação desses colaboradores, de 3 em 3 meses, ou de 6 em 6 meses, tendo então que optar pela não renovação ou admissão vitalícia ao fim de 9 ou 18 meses, respectivamente, sem qualquer “meio-termo”?
- Que motivação terão os empresários para investir em recursos humanos adicionais sabendo que, perante qualquer contrariedade, contam com uma legislação laboral no seu País que é apenas a mais restritiva e menos flexível de toda a OCDE, apenas comparáveis com as de repúblicas do extinto socialismo de leste e/ou alguns regimes do chamado 3.º mundo?
- Até que ponto será legítimo pedir às empresas que possuem diversas situações de elevada precariedade, que elas próprias ofereçam, pelo contrário, relações de trabalho sem nenhum tipo de precariedade e assim relativamente a todos os seus colaboradores?
- Sabendo dos crescentes e graves riscos de sobrevivência de muitas empresas e de tantas situações de eminência de insolvência, será realmente expectável nunca colocar em causa os chamados “direitos adquiridos” dos colaboradores e a noção de “emprego para toda a vida”, consagrados na nossa legislação e, de certa forma, até na própria Constituição da República?
- Será realmente muito mais condenável que se mantenham relações de trabalho em que ambas as partes podem suspendê-lo a qualquer momento do que contratos de trabalho em que se verifica essa possibilidade para um dos lados e praticamente nunca para o outro? Ou não serão a confiança, a satisfação e a utilidade mútua as reais bases de qualquer contrato de boa-fé, seja ele de qua natureza for?
- Qual será o real “pecado” de uma empresa que tenha uma pequena componente de trabalhadores com trabalho de natureza próxima da dependente (hierarquizado, sujeito a regras e horários internos, com remuneração fixa e/ou exercendo a sua prestação de serviço na própria empresa) em momentos ou funções que ofereçam particular risco de contratação desajustada, sobretudo perante cenários de ameaça às empresas como o que agora atravessamos?
Após reflexão sobre estas e possivelmente outras questões, não será certamente difícil chegarmos à conclusão de que os verdadeiros flagelos sociais são as “mortes” de empresas e as taxas de desemprego como as que possuímos hoje em dia, e não propriamente talvez … a cor dos recibos com os quais se trabalha, a bem da economia, do emprego e do bem-estar das famílias.
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segunda-feira, 2 de março de 2009
Regresso
domingo, 27 de abril de 2008
Direita por linhas tortas
José Miguel Júdice lançou, esta semana, a opinião sobre a existência de um “espaço aberto entre o PSD e o CDS, desejavelmente a preencher com o melhor de cada partido”. Entendo, muito pelo contrário, que esse espaço não existe, ou, a existir potencialmente, não pode ver reunidas, de forma alguma, as condições políticas mínimas para que ganhe vida a breve prazo.
A força do leque partidário presente encontra-se, na realidade, profundamente “desfalcada” à direita. Cada vez mais se torna notória não só a desideologização dos grandes partidos centrais, PS e PSD, cujos conteúdos programáticos acentuam a ausência de doutrina e de valores políticos, como agora também parece ser esse o caminho do CDS-PP. Pretendendo certamente seguir uma tendência internacional de pragmatismo eleitoral, que também tem passado pela bipartidarização dos votantes, na linha da boa tradição inglesa ou americana.
Mas mais ainda do que as questões da bipartidarização ou da desideologização, vemos que o chamado “espírito de direita” se está a extinguir em Portugal, o que, por si só, poderia ser um factor promotor de uma “nova direita”. Ou seja, dentro dos partidos parlamentarmente elegíveis, encontramos menos os valores de direita, ao contrário da esquerda, em que se verificam inclusivé áreas de pleonasmo entre PCP/CDU e Bloco de Esquerda. Ora, esse défice de valores de direita sucede exactamente porque os dois possíveis portadores da bandeira da direita – PSD e CDS – a deixam em casa simplesmente.
O PSD nunca se assumiu, em mais de 30 anos de democracia, como partido afectado por valores de direita, quando na realidade tem tido em segmentos de centro-direita a sua sustentabilidade eleitoral. Com Barroso, Santana, Menezes ou o(a) Sr. (a) que se segue, dir-se-á sempre um partido de base centro-esquerda, ou quanto muito do centro com influências neoliberais. Permanecerá olhando a sua real oportunidade no espaço à sua esquerda que o PS lhe possa permitir em cada momento, apesar da sempre indisfarçável vontade de se aliar, em caso de necessidade, com quem esteja à sua direita.
Do CDS ainda não vimos provavelmente toda a estratégia da actual Direcção, embora já tenha sido possível colher alguns sinais de que o pragmatismo e a desideologização já o contagiam também. Paulo Portas parece querer assumir para si a “receita de sucesso” dos dois partidos grandes e estará certamente à procura de espaço para, pelo menos, fazer coincidir o seu posicionamento com o do PSD, no caso de, mais ainda, não conseguir “ultrapassá-lo pela esquerda”, o que seria de um malabarismo ao alcance de poucos ou de nenhum. A ser assim, chamar-lhe-ia o terceiro grande erro da carreira política de Paulo Portas, depois da não quebra de coligação após saída de Durão Barroso e da sua prematura recandidatura à Presidência do CDS (que deveria, na mais breve das hipóteses, ter ocorrido por esta altura, e não em Maio de 2007). Os cidadãos votantes jamais lhe perdoariam tamanho esforço artificial de tentar conquistar posição eleitoral a “qualquer preço”.
No entanto, parece-me possível (não diria provável) que uma nova direita se reconstruísse após as eleições de 2009. “Bastaria” que o PSD continuasse a não acertar com um líder conciliador e que ambos os partidos tivessem resultados legislativos maus – menos de 6% para o CDS e de 30% para o PSD, a par da renovação da maioria absoluta socialista. Nesses cenários, e sem um líder “laranja” fortemente congregador do espectro PPD/PSD, não me custaria muito antever o estilhaçar dos dois partidos e a consequente geração de uma nova força assumidamente de direita, resultante da colagem de vários fragmentos, sem que contudo deixem de subsistir PSD e CDS.
Mais provável é mesmo que Sócrates se mantenha em governo maioritário, não sendo também de excluir, de todo, que os scores eleitorais à direita sejam suficientemente negativos para criarem as suas condições “estilhaçantes”. O facto que mais poderá então impedir o despoletar de uma nova força política à direita será a eleição de Rui Rio como Presidente do PSD após as legislativas de 2009.
E como aliás se pôde ver pelas movimentações recentes após a demissão de Menezes, essa eleição é altamente provável…
A força do leque partidário presente encontra-se, na realidade, profundamente “desfalcada” à direita. Cada vez mais se torna notória não só a desideologização dos grandes partidos centrais, PS e PSD, cujos conteúdos programáticos acentuam a ausência de doutrina e de valores políticos, como agora também parece ser esse o caminho do CDS-PP. Pretendendo certamente seguir uma tendência internacional de pragmatismo eleitoral, que também tem passado pela bipartidarização dos votantes, na linha da boa tradição inglesa ou americana.
Mas mais ainda do que as questões da bipartidarização ou da desideologização, vemos que o chamado “espírito de direita” se está a extinguir em Portugal, o que, por si só, poderia ser um factor promotor de uma “nova direita”. Ou seja, dentro dos partidos parlamentarmente elegíveis, encontramos menos os valores de direita, ao contrário da esquerda, em que se verificam inclusivé áreas de pleonasmo entre PCP/CDU e Bloco de Esquerda. Ora, esse défice de valores de direita sucede exactamente porque os dois possíveis portadores da bandeira da direita – PSD e CDS – a deixam em casa simplesmente.
O PSD nunca se assumiu, em mais de 30 anos de democracia, como partido afectado por valores de direita, quando na realidade tem tido em segmentos de centro-direita a sua sustentabilidade eleitoral. Com Barroso, Santana, Menezes ou o(a) Sr. (a) que se segue, dir-se-á sempre um partido de base centro-esquerda, ou quanto muito do centro com influências neoliberais. Permanecerá olhando a sua real oportunidade no espaço à sua esquerda que o PS lhe possa permitir em cada momento, apesar da sempre indisfarçável vontade de se aliar, em caso de necessidade, com quem esteja à sua direita.
Do CDS ainda não vimos provavelmente toda a estratégia da actual Direcção, embora já tenha sido possível colher alguns sinais de que o pragmatismo e a desideologização já o contagiam também. Paulo Portas parece querer assumir para si a “receita de sucesso” dos dois partidos grandes e estará certamente à procura de espaço para, pelo menos, fazer coincidir o seu posicionamento com o do PSD, no caso de, mais ainda, não conseguir “ultrapassá-lo pela esquerda”, o que seria de um malabarismo ao alcance de poucos ou de nenhum. A ser assim, chamar-lhe-ia o terceiro grande erro da carreira política de Paulo Portas, depois da não quebra de coligação após saída de Durão Barroso e da sua prematura recandidatura à Presidência do CDS (que deveria, na mais breve das hipóteses, ter ocorrido por esta altura, e não em Maio de 2007). Os cidadãos votantes jamais lhe perdoariam tamanho esforço artificial de tentar conquistar posição eleitoral a “qualquer preço”.
No entanto, parece-me possível (não diria provável) que uma nova direita se reconstruísse após as eleições de 2009. “Bastaria” que o PSD continuasse a não acertar com um líder conciliador e que ambos os partidos tivessem resultados legislativos maus – menos de 6% para o CDS e de 30% para o PSD, a par da renovação da maioria absoluta socialista. Nesses cenários, e sem um líder “laranja” fortemente congregador do espectro PPD/PSD, não me custaria muito antever o estilhaçar dos dois partidos e a consequente geração de uma nova força assumidamente de direita, resultante da colagem de vários fragmentos, sem que contudo deixem de subsistir PSD e CDS.
Mais provável é mesmo que Sócrates se mantenha em governo maioritário, não sendo também de excluir, de todo, que os scores eleitorais à direita sejam suficientemente negativos para criarem as suas condições “estilhaçantes”. O facto que mais poderá então impedir o despoletar de uma nova força política à direita será a eleição de Rui Rio como Presidente do PSD após as legislativas de 2009.
E como aliás se pôde ver pelas movimentações recentes após a demissão de Menezes, essa eleição é altamente provável…
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Heaven
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Endeusamento
De Paulo Bento pelo suposto discurso eficaz no intervalo da meia-final Sporting-Benfica. Eis que segue, portanto, a grande consideração da imprensa por este treinador que me atrevo a adjectivar como "banal". Se não ganhar a Taça de Portugal (CONTRA O PORTO!), continuará o endeusamento? Se a isso se somar o não atingir do 2º lugar, ainda continuará com a plena confiança da Direcção e dos media?
terça-feira, 8 de abril de 2008
Ode 37
Os trinta já estão distantes,
A idade está a pesar;
Mais sete há que somar
E umas rugas que não antes.
Por muito que te adiantes,
Não vais poder encontrar
Número tão certo e a par
Com causa das importantes.
Semanas são trinta e sete
Do bebé que vai nascer,
Mas muito mais medo mete,
Embora menos pesado,
Os anos que tens que ter
Seja ou não do teu agrado…
.
A idade está a pesar;
Mais sete há que somar
E umas rugas que não antes.
Por muito que te adiantes,
Não vais poder encontrar
Número tão certo e a par
Com causa das importantes.
Semanas são trinta e sete
Do bebé que vai nascer,
Mas muito mais medo mete,
Embora menos pesado,
Os anos que tens que ter
Seja ou não do teu agrado…
.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
Superioridade
TriParabéns!
A Pinto da Costa pela tenacidade e savoir-faire
A Jesualdo pela postura e profissionalismo
A Lucho e Lisandro pela classe, a Bruno Alves e a Bosingwa por se terem imposto em grande
Ao Departamento Clínico por ter preservado toda uma equipa
A todos os outros mais visíveis e mais anónimos
Fica para o ano, a resolver:
- um lateral-esquerdo e um defesa-central de classe inquestionáveis
- um sistema de meio-campo alternativo à visão de Lucho Gonzalez
- um ponta-de-lança para os dias de desinspiração de Lisandro Lopez
- alguém que tape a saída de Bosingwa e/ou Quaresma
- voar para a final das "Champions"
(Afinal, sempre bastava empatar com o Estrela. A festa seria após o jogo do Bessa, apenas 24 h de diferença...)
cat
campeao,
fcporto,
futebol,
superioridade,
tricampeoes
sexta-feira, 4 de abril de 2008
Só mais um...
O V. Guimarães acaba de empatar em Paços de Ferreira.
Dá-me a sensação que ao F.C.Porto basta empatar com o E. Amadora....
Dá-me a sensação que ao F.C.Porto basta empatar com o E. Amadora....
Dá-me a pistola!...
Soubemos ontem pelo Sr. Procurador-Geral da República que este partilhou com o Sr. Presidente da mesma, e conosco portanto a seguir, que o caso "Carolina Micaelis" não tinha gravidade nenhuma, PORQUANTO HÁ MUITOS CASOS DE ALUNOS QUE LEVAM PISTOLAS PARA AS ESCOLAS. Ainda mais específico:
- alguns fazem-no a conselho dos Pais;
- as ditas cujas são de 9 mm e 6.35mm
Que precisão de informação!
Que descanso para todos nós saber que o caso "Carolina" não passa de um fait-divers sem gravidade nenhuma!
terça-feira, 1 de abril de 2008
Mentindo sobre a mentira
Títulos que não encontrei, mas que podia ter encontrado na imprensa de hoje:
- PÚBLICO - "IVA pode descer mais 1% em 2009, IRS 2% e IRC 3%"
- JN - "Criminalidade baixa no Grande Porto"
- DN - "Presidente da ASAE nomeado para Provedor da Justiça"
- CORREIO DA MANHÃ - "José Miguel Júdice volta a filiar-se no PSD"
- 24 HORAS - "José Castelo Branco assume-se heterossexual como a maioria das mulheres"
- O PRIMEIRO DE JANEIRO - "PS já escolheu candidato à C.M.P. em 2009"
- A BOLA - "Benfica planeia próxima época para ser campeão"
- RECORD - "Paulo Bento acredita que ainda pode ser uma grande época para o Sporting"
- O JOGO - "F.C.Porto pode perder 6 pontos com base nos depoimentos de Carolina Salgado"
domingo, 30 de março de 2008
sábado, 29 de março de 2008
A SETE CHAVES
A crescente natalidade de movimentos de cidadãos que se pretendem identificar com a tão banalmente chamada “sociedade civil” deve ser objecto de reflexão por parte da própria “sociedade civil”, por parte dos órgãos do regime instituído, por parte dos partidos políticos.
O mais recente exemplo foi protagonizado pelo “Novo Portugal”, grupo de reflexão (ainda sem qualquer tipo de classificação, seja ele de Associação, Movimento, Plataforma, etc.,) constituído por cidadãos que de algum modo se destacaram em um dos mais diversos quadrantes profissionais, todos eles com menos de 45 anos. Assim, o evento “Novo Portugal – Opções de uma Geração” reuniu cerca de 120 gestores, empresários, médicos, professores, advogados, cientistas, investigadores, marketeers, economistas e profissionais oriundos de áreas tão vastas como a arte, a tecnologia, as letras e as humanidades, no intuito de produzirem um documento que não apenas pretende desafiar o País a discutir o diagnóstico a ele feito, como também a equacionar o seguimento de linhas de orientação propostas, para um degrau de tempo de cerca de 25 anos, ou seja, o período aproximadamente correspondente a uma geração.
Note-se desde logo que o “Novo Portugal” mostrou-se tão abrangente em termos de matérias abordadas, quanto são razoavelmente despretensiosos os seus propósitos. Abrangente uma vez que não reúne apenas empresários e/ou gestores, mas profissionais especialistas em múltiplos sectores da vida económica, social, cultural e “política”. (As aspas devem-se ao sentido eminentemente não partidário do termo.) De objectivos despretensiosos porque, apesar de o documento ser levado à Presidência da República e de pretender ter a sociedade como interlocutora, este grupo não se constitui com o objectivo de bem se posicionar para conquistar papéis de relevo na sociedade, dado que a maioria dos seus elementos já se encontram na “linha da frente” a esse respeito. Aliás, a plena legitimidade do “Novo Portugal” para interferir nas grandes questões nacionais não advém apenas daí, mas também do facto de, sendo constituído por jovens até 45 anos, fazer parte de uma geração que não tem responsabilidades nas grandes marcas político-sociais da nossa história passada ou recente, sejam elas o estabelecimento e manutenção do Estado Novo ou a Revolução de 25 de Abril, o processo de descolonização, a actual Constituição da República, o compromisso europeu ou a criação da actual lógica político-partidária democrática. Sem qualquer mérito, mas também sem qualquer culpa.
Estranho, ou talvez não, o facto de a classe política mais “tradicional” ter comentado as conclusões da iniciativa como “velhas ideias”. Na realidade, “velha ideia” parece ser esta de um político profissional comentar negativamente as propostas de um profissional não-político. Queira então o estimado leitor fazer o seu próprio juízo, tendo em conta as principais conclusões/orientações de cada um dos sete desígnios: valores, pessoas, organização, territorialidade (espaço), recursos, conhecimento e cultura.
Da minha parte, e pese embora a minha parcialidade decorrente do facto de integrar o “Novo Portugal - Opções de uma Geração”, não me parece realmente tão pouco inovador um documento de propostas tão sistematizado e abrangente como o então produzido.
- Criar um modelo de administração baseado em regiões, estimulando o conceito de cidades-distintivas e o reforço das especificidades da Grande Lisboa e do Grande Porto;
- Departidarizar a Administração Pública, rever o modelo eleitoral no sentido de aumentar a responsabilidade dos eleitos face aos eleitores e reforçar as competências autárquicas;
- Estimular o princípio da subsidiariedade, tornando tão próximas e simplificadas quanto possível as decisões relativas a cada cidadão no plano administrativo, judicial, fiscal, da saúde e da educação;
- Potenciar activamente a investigação e desenvolvimento, a taxa de literacia, a natalidade, a mobilidade, a imigração criteriosa e a retenção de activos e investigadores altamente qualificados, através da adopção de políticas de investimento específicas;
- Substituir o modelo de ensino baseado na repetição pela máxima da paixão criativa, e desenvolvendo os conceitos de empreendedorismo, responsabilidade individual e social;
- Alargar a área da concertação social a universidades, grandes empresas, start-up’s e outros organismos sociais, e promover o estabelecimento de protocolos banca/universidade/novas empresas para fomento da iniciativa empresarial e do empreendedorismo;
- Promover o diálogo inter-geracional e inter-cultural, de forma a recuperar e consolidar a memória colectiva e histórica e, em concreto, apostando no turismo cultural e na exploração do factor língua como factor de competitividade;
Serão estes ou outros sete desígnios capazes de, um dia, abrirem as portas da discussão profícua e apartidária no nosso País?
terça-feira, 18 de março de 2008
Fear of not having nor being
terça-feira, 11 de março de 2008
A DATA DO FEBRIL REVOLUCIONÁRIO
O dia 11 de Março de 1975 foi daquelas datas que marcou Portugal. Esse dia, mais que qualquer outro da nossa história recente, atrasou o desenvolvimento do país e ainda hoje explica muito do nosso presente subdesenvolvimento.
Passados 33 anos, vemo-nos a discutir se Cunhal contribuiu ou não para a liberdade. Basta ler os livros de história: concentraram-se os poderes nos militares, o PCP roubou o poder que o povo teimava em não lhe dar e nacionalizaram-se centenas de empresas. Uma revolução feita, também, em nome do desenvolvimento económico e do progresso era completamente desvirtuada. O Estado tomou conta da economia e não mais a voltou a largar. Ainda vamos ter de esperar gerações para que este vírus seja extinto. É que ele ainda está bem vivo e continua a multiplicar-se.
(publicado por Bolg Atlântico in http://atlantico.blogs.sapo.pt/)
Passados 33 anos, vemo-nos a discutir se Cunhal contribuiu ou não para a liberdade. Basta ler os livros de história: concentraram-se os poderes nos militares, o PCP roubou o poder que o povo teimava em não lhe dar e nacionalizaram-se centenas de empresas. Uma revolução feita, também, em nome do desenvolvimento económico e do progresso era completamente desvirtuada. O Estado tomou conta da economia e não mais a voltou a largar. Ainda vamos ter de esperar gerações para que este vírus seja extinto. É que ele ainda está bem vivo e continua a multiplicar-se.
(publicado por Bolg Atlântico in http://atlantico.blogs.sapo.pt/)
domingo, 9 de março de 2008
SETE DESÍGNIOS
quinta-feira, 6 de março de 2008
The best of... Frei Tomás
Comunicado do Partido Comunista Português, 05/03/2008
(...) A “Operação Fénix”, preparada e levada a cabo com o apoio da Administração Norte-Americana, foi a forma encontrada por Álvaro Uribe e o imperialismo norte-americano para responder às várias iniciativas políticas e diplomáticas com vista à solução pacífica do conflito colombiano – com destaque para a intervenção do Presidente Hugo Chavez – e às repetidas propostas das FARC de abertura de negociações políticas.
Acossados pela repercussão das iniciativas das FARC na opinião pública mundial e junto de vários dirigentes políticos e Chefes de Estado na América Latina e na Europa, Álvaro Uribe e George W. Bush, optam mais uma vez pelo boicote ao caminho do diálogo e da paz, enveredando pela via do militarismo e da provocação e pela tentativa de introdução na América Latina das práticas de “guerra preventiva".
O PCP chama a atenção para a ameaça à paz, à democracia e à soberania que esta provocação do regime de Uribe representa para os países vizinhos da Colômbia e alerta para as consequências que uma escalada militarista poderá ter na América Latina.
O PCP expressa a sua solidariedade ao povo, aos comunistas e a todas as forças progressistas da Colômbia que continuam a luta contra o regime fascizante de Uribe pela paz e o progresso social. Solidariza-se e associa-se a todos aqueles que na Colômbia e na América Latina se manifestam nestes dias contra a guerra, pelo respeito do direito internacional e pela solução pacífica dos conflitos"
No comment of course
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Não há estrelas no céu...
Ao cabo de dois anos e meio de trabalho do primeiro executivo monopartidário de esquerda que goza de maioria absoluta, ocorreu finalmente a tão propagada remodelação governamental. Na realidade, tal remodelação envolveu apenas mais um novo rosto ministerial do que a mera “Operação Campos e Cunha” ou a sofisticada “Operação António Costa”, e tantos novos titulares de pastas como a “Operação Freitas-Amado-Severiano”. Mas, perante a escassa profundidade desta intervenção de José Sócrates, não tenhamos ilusões relativamente às suas motivações políticas. Ela constitui por si mesma, e já na sequência da reversibilidade dos processos de decisão Ota-Alcochete, um ponto de viragem da postura governamental, que assim inaugura o período de pré-campanha para as eleições legislativas de 2009.
O desastroso ministro da Obras Públicas mantém-se no cargo após ter sido profundamente desautorizado pela sociedade civil, pelo próprio Presidente da República e, ao fim ao cabo, pelo chefe de governo. Também não se remodelou o ministro da Economia, capaz de exibir um sem-fim de indicadores negativos relativos à Indústria e ao Comércio e que, em boa parte, estão na origem daquilo a que todos vamos chamando “crise económica”; tem, no entanto, como grande cartão de visita do seu magistério o índice de exportações ligeiramente crescente nos últimos dois semestres, situação que os analistas se unanimizam em considerar como sendo mérito essencial da actividade empresarial privada e não como resultado da aplicação de políticas ou medidas tomadas pelo seu ministério. A ministra da Educação, que parecia, a dada altura, ter um espírito reformador assertivo, encontra-se já totalmente descredibilizada, sem fulgor nem aparente capacidade de levar à prática as iniciativas anunciadas, fornecendo nítidos sinais de hesitação e insegurança, em função da contestação crescente que, por sinal, ainda não atingiu estudantes, mas promete ser minada por parte de uma importante vaga de professores. Poderiam ainda ser citados os quase inexistentes ministros da Agricultura e Pescas e do Ambiente e Ordenamento do Território, que normalmente dão apenas meros sinais de vida sempre coincidentes com declarações politicamente trágicas e indiciadoras de pertencerem a um outro qualquer governo de um outro qualquer país que não o nosso.
Estes ministros sim, provavelmente mais do que aqueles que há poucas semanas saíram, deveriam ser remodelados. Os danos que têm causado às causas estruturais da governação são manifestamente mais graves do que as inábeis posturas da ex-ministra da Cultura e, no mínimo, tão graves como as do ex-ministro Correia de Campos.
No entanto, remodelar um ministro “estrutural”, como os supra-citados, a pouco mais de um ano de eleições poderia ser lido, por parte dos eleitores, como um sinal de fraqueza de um primeiro-ministro que, viria assim, afinal, reconhecer que não acertou nas políticas de eixos fundamentais da governação. O que, de facto, poderia pensar o cidadão-eleitor se fizesse contas à demissão dos responsáveis de pastas tão fortes como a Economia, a Educação ou as Obras Públicas, para além das já anteriormente ocorridas nas Finanças, Administração Interna, Negócios Estrangeiros e Defesa? “Então Sócrates não acerta uma?” poderia certamente ser uma interjeição demasiado crua, provável e danosa.
Fica então muito mais fácil e popular retirar de cena uma ministra que visivelmente não existia, que perdeu batalhas importantes (como a do Túnel de Soares dos Reis) e que pertencia a uma “pasta menor”, como era o caso de Isabel Pires de Lima, e afastar um ministro que gerava incómodas manifestações genuínas de desagrado para com o governo, um pouco por todos o País, como Correia de Campos. Transmite-se a ideia de responsabilidade e atenção a pontos menos bons, que sempre qualquer governo tem, passa-se a mensagem de autoridade de um primeiro-ministro corajoso e, sobretudo, disfarçam-se pequenas fraquezas mais aparentes, sem contudo actuar nos pilares fundamentais da instabilidade, por não haver tempo para os reequilibrar. Essencialmente devido a eleições já em 2009.
No momento em que Diogo Freitas do Amaral apresentou a sua demissão dos Negócios Estrangeiros, regozijei-me por antes ter previsto, exactamente nestas páginas de “O Primeiro de Janeiro”, que seria ele o sucessor de Campos e Cunha na saída do executivo. Simultaneamente arrisquei a sugerir que seria Manuel Pinho o “cliente seguinte” e que provavelmente Mário Lino não chegaria também ao final da legislatura. Pois naturalmente reconheço que foi muito pouco certeira a nova previsão, pelo menos assim está claro relativamente ao titular da Economia. Provavelmente pequei por não ter considerado que José Sócrates podia iniciar a pré-campanha quase um ano e meio antes das eleições. Não há, pois, (ainda) estrelas no céu.
Parece que o governo inteiro se uniu para nos gozar…
O desastroso ministro da Obras Públicas mantém-se no cargo após ter sido profundamente desautorizado pela sociedade civil, pelo próprio Presidente da República e, ao fim ao cabo, pelo chefe de governo. Também não se remodelou o ministro da Economia, capaz de exibir um sem-fim de indicadores negativos relativos à Indústria e ao Comércio e que, em boa parte, estão na origem daquilo a que todos vamos chamando “crise económica”; tem, no entanto, como grande cartão de visita do seu magistério o índice de exportações ligeiramente crescente nos últimos dois semestres, situação que os analistas se unanimizam em considerar como sendo mérito essencial da actividade empresarial privada e não como resultado da aplicação de políticas ou medidas tomadas pelo seu ministério. A ministra da Educação, que parecia, a dada altura, ter um espírito reformador assertivo, encontra-se já totalmente descredibilizada, sem fulgor nem aparente capacidade de levar à prática as iniciativas anunciadas, fornecendo nítidos sinais de hesitação e insegurança, em função da contestação crescente que, por sinal, ainda não atingiu estudantes, mas promete ser minada por parte de uma importante vaga de professores. Poderiam ainda ser citados os quase inexistentes ministros da Agricultura e Pescas e do Ambiente e Ordenamento do Território, que normalmente dão apenas meros sinais de vida sempre coincidentes com declarações politicamente trágicas e indiciadoras de pertencerem a um outro qualquer governo de um outro qualquer país que não o nosso.
Estes ministros sim, provavelmente mais do que aqueles que há poucas semanas saíram, deveriam ser remodelados. Os danos que têm causado às causas estruturais da governação são manifestamente mais graves do que as inábeis posturas da ex-ministra da Cultura e, no mínimo, tão graves como as do ex-ministro Correia de Campos.
No entanto, remodelar um ministro “estrutural”, como os supra-citados, a pouco mais de um ano de eleições poderia ser lido, por parte dos eleitores, como um sinal de fraqueza de um primeiro-ministro que, viria assim, afinal, reconhecer que não acertou nas políticas de eixos fundamentais da governação. O que, de facto, poderia pensar o cidadão-eleitor se fizesse contas à demissão dos responsáveis de pastas tão fortes como a Economia, a Educação ou as Obras Públicas, para além das já anteriormente ocorridas nas Finanças, Administração Interna, Negócios Estrangeiros e Defesa? “Então Sócrates não acerta uma?” poderia certamente ser uma interjeição demasiado crua, provável e danosa.
Fica então muito mais fácil e popular retirar de cena uma ministra que visivelmente não existia, que perdeu batalhas importantes (como a do Túnel de Soares dos Reis) e que pertencia a uma “pasta menor”, como era o caso de Isabel Pires de Lima, e afastar um ministro que gerava incómodas manifestações genuínas de desagrado para com o governo, um pouco por todos o País, como Correia de Campos. Transmite-se a ideia de responsabilidade e atenção a pontos menos bons, que sempre qualquer governo tem, passa-se a mensagem de autoridade de um primeiro-ministro corajoso e, sobretudo, disfarçam-se pequenas fraquezas mais aparentes, sem contudo actuar nos pilares fundamentais da instabilidade, por não haver tempo para os reequilibrar. Essencialmente devido a eleições já em 2009.
No momento em que Diogo Freitas do Amaral apresentou a sua demissão dos Negócios Estrangeiros, regozijei-me por antes ter previsto, exactamente nestas páginas de “O Primeiro de Janeiro”, que seria ele o sucessor de Campos e Cunha na saída do executivo. Simultaneamente arrisquei a sugerir que seria Manuel Pinho o “cliente seguinte” e que provavelmente Mário Lino não chegaria também ao final da legislatura. Pois naturalmente reconheço que foi muito pouco certeira a nova previsão, pelo menos assim está claro relativamente ao titular da Economia. Provavelmente pequei por não ter considerado que José Sócrates podia iniciar a pré-campanha quase um ano e meio antes das eleições. Não há, pois, (ainda) estrelas no céu.
Parece que o governo inteiro se uniu para nos gozar…
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Jogada perigosa...
O erro de Sócrates
A partir do momento em que José Sócrates assumiu a autoria dos projectos realizados nos anos 80 enquanto engenheiro técnico relatados pelo Público, a questão desloca-se ligeira, mas perigosamente, para um plano diferente. Não estamos já no terreno pantanoso de alguém permitir a outrem cometer uma brutal ilegalidade mas sim no de saber se o primeiro-ministro fala ou não verdade.
José Sócrates deveria ter resistido a esta tentação. A investigação passa agora a ter como objectivo confrontar o primeiro-ministro com afirmações que fez nessa qualidade. E tudo o que José Sócrates não precisa é de investigações ao seu passado como engenheiro técnico.
Que ele tenha aposto a sua assinatura, há décadas, como é prática comum (o que aliás diz muito sobre essa coisa de “nem pensar ter privados a licenciar projectos que isso ia ser uma corrupção desbragada”) em projectos alheios, é coisa que o tuga ainda se apressa a perdoar, como perdoou a fanfarronice de se fazer passar por engenheiro. Foi há décadas, o homem nem sonhava vir a ser primeiro-ministro, era ingénuo, o país não dava oportunidades…
Mas neste momento a coisa já se deslocou para afirmações do primeiro-ministro que, hoje, agora, assume com todas as letras que foi ele que o fez os projectos em causa. E isso é o que vamos ver.
Por AMN, Blog "A Arte da Fuga", 01/02/2008
sábado, 19 de janeiro de 2008
quinta-feira, 3 de janeiro de 2008
And the winner is...
O Farol do Deserto elegeu as figuras e acontecimentos do ano 2007
Figura Nacional do Ano - Joe Berardo, pela capacidade de tomar minutos de TV por qualquer assunto que seja
Figura internacional do Ano - Luis Amado, pela capacidade singular de se internacionalizar com tanto êxito depois de tanto tempo à defesa
Acontecimento Nacional do Ano - O Gato Fedorento, pelo muito tempo que deles fazem falar tantos cidadãos, com tão poucos minutos semanais de novo humor
Acontecimento Internacional do Ano - A imprensa internacional, pela quantidade de tempo que gastam em debater se a Casa Branca vai ser ocupada por Hillary ou Obama, sem se lembrarem que existe um Partido Republicano, que às vezes até ganha
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Mal vai o NAL
Não existe dúvida de que a questão da necessidade de construção e localização do novo aeroporto de Lisboa (que até já assumiu estatuto maiúsculo, Novo Aeroporto de Lisboa, e arroga-se no direito de utilizar a sigla NAL) foi, é e será uma das questões mais embaraçosas para o actual governo. Desde logo porque Mário Lino, recém-chegado às suas funções num dos mais altos cargos que o Estado lhe poderia proporcionar, anuncia de forma tão inequívoca como desprovida de fundamentos que o novo aeroporto da capital se situará na Ota e de que já é tempo de trabalhar nesse sentido. Perante as primeiras reacções de antagonismo, limita-se a anunciar de que se tratará de um investimento de fundos eminentemente privados, procurando com isso fazer crer que será muito leve para o erário público.
Sem pretender fazer uma retrospectiva dos acontecimentos, recordo apenas que se discutiu largamente a distância enorme ao centro da capital, as inadequadas condições geológicas do local, a ausência de sustentável tecido urbano envolvente e, muito mais discretamente, a repercussão negativa que um aeroporto situado a 60 km a norte da capital poderia ter na intensidade de utilização do segundo maior aeroporto nacional, o Francisco Sá Carneiro, que serve o Porto e a região Norte. Contudo, o jogo já estava, nesse momento, completamente viciado, perante o facto de que a discussão gira em torno do local onde se construirá e ultrapassa a questão da real necessidade de construção de um novo aeroporto. Como se pode afirmar tão peremptoriamente que a Portela não sustentará por muito mais anos o previsível fluxo de passageiros? Já alguém por ventura reparou na má distribuição, ao longo do dia, dos horários dos vôos que chegam e partem de Lisboa? Já alguém deu conta que os balcões de check-in na Portela com números do 70 ao 90 estão quase sempre vazios? Já alguém parou para pensar que o País tem um Sá Carneiro subutilizado, com belíssimas condições, que não dista mais de 200 km de Leiria, 150 km de Coimbra, 90 km de Aveiro, etc..? Já alguém se deu ao trabalho de quantificar os passageiros que acabam por partir e/ou chegar ao Porto (e os que, não fazendo, poderiam fazê-lo de bom grado ou sem grandes problemas) e não o fazem directamente de Sá Carneiro desde logo por não haver vôos directos, acabando muitas vezes por perfazer viagens de automóvel ou comboio para norte? Será efectivamente tão difícil e custoso fazer obras de adaptação na Portela, pois quem lá aterra ou de lá descola, lá circula ou passa de carro, não vê propriamente um conjunto de empreendimentos em seu redor indiciadores da impossibilidade de resgate dos respectivos terrenos? Será que efectivamente não existem potentes interesses imobiliários em Lisboa e do sector da construção (para Lisboa e Ota) que possam estar a empurrar a vontade de decidir pró-Ota ou até pró-Alcochete? Será até tão facilmente calculável assim o fluxo de vôos no futuro, num mundo que ainda não conseguiu lidar efectivamente com fenómenos como o terrorismo ou dominar sérias ameaças à economia global?
Parece-me claro que, havendo razões inequívocas para a efectiva necessidade de construção, elas não foram nunca suficientemente comprovadas. Parecem mesmo muito mais lacónicas as alusões a essa necessidade de construção do que as evidências de que a Portela possa comportar a evolução do fluxo aéreo nas próximas décadas.
Por tudo isto, não parece, antes de mais, desprovido de qualquer sentido a simples hipótese “Portela+0”.
Por outro lado, e tendo em conta que já são públicos diversos estudos alternativos que apontam outras localizações e soluções, pretendia revelar, em primeira mão no OPJ, um importante estudo de que fiz parte, enquanto cidadão, e que reuniu outros beneméritos voluntariosos individuais, enviado em devido tempo ao governo – a hipótese de o novo aeroporto de Lisboa se situar em São João da Pesqueira. Por pudor e necessidade de concisão, revelo apenas alguns dos argumentos favoráveis conclusivos, do ponto de vista técnico, político e económico-turístico: - vastas áreas de terreno desprovidas de acidentes geográficos; solo bastante mais propício e com pequena quantidade de bacias hídricas comparativamente com Ota e Alcochete; pista natural para hidroaviões (no rio Douro, mesmo ao lado); fomento do emprego numa das regiões nacionais mais carenciadas nele próprio e menos evoluídas economicamente; atracção de enorme fluxo de passageiros espanhóis, designadamente de Castilla, León e Extremadura, que não possuem aeroportos condignos; aproveitamento de clientes/passageiros provenientes de todos os pontos cardeais envolventes, ao contrário da Ota, Alcochete ou os próprios Sá Carneiro e Portela, que nunca conseguirão atrair passageiros a Oeste; potenciação da exploração turística de diversos ex-líbris nacionais pouco explorados como as gravuras de Foz-Côa, o museu de Santa Comba Dão, o Palácio de Mateus, os rebuçados da Régua e o presunto de Lamego; inexistência da necessidade de construção de nova ponte sobre o Tejo, como em Alcochete; ausência do risco de que nenhuma terra próxima assustasse os passageiros com o seu próprio nome, também como no caso de Alcochete. Ou não faltará gente que recuse voar a partir de Alcochete sabendo que, assim que se descola, logo se sobrevoa uma área chamada Sarilhos Grandes?
Sem pretender fazer uma retrospectiva dos acontecimentos, recordo apenas que se discutiu largamente a distância enorme ao centro da capital, as inadequadas condições geológicas do local, a ausência de sustentável tecido urbano envolvente e, muito mais discretamente, a repercussão negativa que um aeroporto situado a 60 km a norte da capital poderia ter na intensidade de utilização do segundo maior aeroporto nacional, o Francisco Sá Carneiro, que serve o Porto e a região Norte. Contudo, o jogo já estava, nesse momento, completamente viciado, perante o facto de que a discussão gira em torno do local onde se construirá e ultrapassa a questão da real necessidade de construção de um novo aeroporto. Como se pode afirmar tão peremptoriamente que a Portela não sustentará por muito mais anos o previsível fluxo de passageiros? Já alguém por ventura reparou na má distribuição, ao longo do dia, dos horários dos vôos que chegam e partem de Lisboa? Já alguém deu conta que os balcões de check-in na Portela com números do 70 ao 90 estão quase sempre vazios? Já alguém parou para pensar que o País tem um Sá Carneiro subutilizado, com belíssimas condições, que não dista mais de 200 km de Leiria, 150 km de Coimbra, 90 km de Aveiro, etc..? Já alguém se deu ao trabalho de quantificar os passageiros que acabam por partir e/ou chegar ao Porto (e os que, não fazendo, poderiam fazê-lo de bom grado ou sem grandes problemas) e não o fazem directamente de Sá Carneiro desde logo por não haver vôos directos, acabando muitas vezes por perfazer viagens de automóvel ou comboio para norte? Será efectivamente tão difícil e custoso fazer obras de adaptação na Portela, pois quem lá aterra ou de lá descola, lá circula ou passa de carro, não vê propriamente um conjunto de empreendimentos em seu redor indiciadores da impossibilidade de resgate dos respectivos terrenos? Será que efectivamente não existem potentes interesses imobiliários em Lisboa e do sector da construção (para Lisboa e Ota) que possam estar a empurrar a vontade de decidir pró-Ota ou até pró-Alcochete? Será até tão facilmente calculável assim o fluxo de vôos no futuro, num mundo que ainda não conseguiu lidar efectivamente com fenómenos como o terrorismo ou dominar sérias ameaças à economia global?
Parece-me claro que, havendo razões inequívocas para a efectiva necessidade de construção, elas não foram nunca suficientemente comprovadas. Parecem mesmo muito mais lacónicas as alusões a essa necessidade de construção do que as evidências de que a Portela possa comportar a evolução do fluxo aéreo nas próximas décadas.
Por tudo isto, não parece, antes de mais, desprovido de qualquer sentido a simples hipótese “Portela+0”.
Por outro lado, e tendo em conta que já são públicos diversos estudos alternativos que apontam outras localizações e soluções, pretendia revelar, em primeira mão no OPJ, um importante estudo de que fiz parte, enquanto cidadão, e que reuniu outros beneméritos voluntariosos individuais, enviado em devido tempo ao governo – a hipótese de o novo aeroporto de Lisboa se situar em São João da Pesqueira. Por pudor e necessidade de concisão, revelo apenas alguns dos argumentos favoráveis conclusivos, do ponto de vista técnico, político e económico-turístico: - vastas áreas de terreno desprovidas de acidentes geográficos; solo bastante mais propício e com pequena quantidade de bacias hídricas comparativamente com Ota e Alcochete; pista natural para hidroaviões (no rio Douro, mesmo ao lado); fomento do emprego numa das regiões nacionais mais carenciadas nele próprio e menos evoluídas economicamente; atracção de enorme fluxo de passageiros espanhóis, designadamente de Castilla, León e Extremadura, que não possuem aeroportos condignos; aproveitamento de clientes/passageiros provenientes de todos os pontos cardeais envolventes, ao contrário da Ota, Alcochete ou os próprios Sá Carneiro e Portela, que nunca conseguirão atrair passageiros a Oeste; potenciação da exploração turística de diversos ex-líbris nacionais pouco explorados como as gravuras de Foz-Côa, o museu de Santa Comba Dão, o Palácio de Mateus, os rebuçados da Régua e o presunto de Lamego; inexistência da necessidade de construção de nova ponte sobre o Tejo, como em Alcochete; ausência do risco de que nenhuma terra próxima assustasse os passageiros com o seu próprio nome, também como no caso de Alcochete. Ou não faltará gente que recuse voar a partir de Alcochete sabendo que, assim que se descola, logo se sobrevoa uma área chamada Sarilhos Grandes?
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
Absolvemos a justiça?
Todos absolvidos
José Manuel Torres Couto, João Proença e Rui Oliveira e Costa, dirigentes da UGT, foram absolvidos hoje no processo de alegadas burlas com verbas do fundo social europeu. A acusação por fraude na obtenção de subsídios, num valor superior a 358 mil contos (1,8 milhões de euros), tinha sido deduzida pelo Ministério Público (MP), em 1995, contra 36 arguidos, 23 dos quais pessoas singulares. Foram precisos 20 anos para a "nossa excelente" justiça ter chegado a esta conclusão. Afinal, as verbas comunitárias foram bem aplicadas pela UGT e pelos restantes candidatos às ajudas, e por isso, Portugal é hoje um dos países mais desenvolvidos da Europa! Daqui por vinte anos espero já não ter pachorra para colocar aqui um post idêntico sobre o julgamento no processo da Casa Pia.
Por Carlos, in Blog Galo Verde, 17/12/2007.
José Manuel Torres Couto, João Proença e Rui Oliveira e Costa, dirigentes da UGT, foram absolvidos hoje no processo de alegadas burlas com verbas do fundo social europeu. A acusação por fraude na obtenção de subsídios, num valor superior a 358 mil contos (1,8 milhões de euros), tinha sido deduzida pelo Ministério Público (MP), em 1995, contra 36 arguidos, 23 dos quais pessoas singulares. Foram precisos 20 anos para a "nossa excelente" justiça ter chegado a esta conclusão. Afinal, as verbas comunitárias foram bem aplicadas pela UGT e pelos restantes candidatos às ajudas, e por isso, Portugal é hoje um dos países mais desenvolvidos da Europa! Daqui por vinte anos espero já não ter pachorra para colocar aqui um post idêntico sobre o julgamento no processo da Casa Pia.
Por Carlos, in Blog Galo Verde, 17/12/2007.
domingo, 11 de novembro de 2007
Bem Tratado
Glória à Europa pelo acordo encontrado, louvor à diplomacia portuguesa por dele tão bem ter tratado!
Parece óbvio que este pensamento é consensual nos corredores da burocracia europeia. Pelo menos, assim tem sido relatado. Quanto ao chamado cidadão comum, talvez tenha dada a mesma importância aos épicos trabalhos de Sócrates, Amado, Lobo Antunes e seus séquitos quanto deu à prestação da amadora selecção de râguebi no recente campeonato do mundo.
A Europa vive há muito tempo na perseguição da utopia de se poder formar como massa política tão uniforme como os Estados Unidos, a China ou o Japão. Apaixona-se pelo sonho de fomentar um espírito europeu único, como se essa coisa da língua, da profunda cultura histórica ou dos mais simples costume quotidianos, tão distintos entre eslavos e latinos, ou até entre portugueses e espanhóis, sejam fundidos por um mero tratado, com nome de constitucional ou sem ele.
Por muito “contra-a-corrente” que me arrisque a ser, tenho para mim que este tratado não possui assim tanto de mérito, de método e de oportunidade.
De mérito desde logo porque a maioria das questões acordadas pelos Chefes de Estado e de Governo eram matérias pacíficas e desprovidas de polémica, por muito que se engrandeça a trabalho das diplomacias portuguesa e alemã, com aplausos aos intensos trabalhos de bastidores. Não vejo sinceramente tanta dificuldade num consenso em torno da definição da eleição de um Presidente da Comissão por 2 anos e meio, mesmo que se alegue que agora somos 27 e não 15. Ou que pudesse ser assim tão difícil que todos estivessem de acordo sobre a designação de uma espécie de Ministro dos Negócios Estrangeiros da UE. Fica então o mérito do “porreiro, pá” para o deslindar da questão italiana, que não queria ter menos um deputado que o Reino Unido, só ultrapassada pela grande visão estratégica da presidência portuguesa, que resolveu não contando com o lugar de presidente do Parlamento Europeu para as contas dos deputados! Fantástico e soberbo, diriam certamente Descartes, Einstein ou Sócrates (o grego). Enfim, existia ainda o delicado tema polaco, cuja cúpula familiar fazia questão de bater o pé para poder levar uma vitória internacional nas eleições de três dias depois. Engoliu-se a exigência polaca, e o caso acabou resolvido, já que não era possível, pelos vistos, fazer a cimeira uma semana depois, quando era mais do que previsível que o partido governamental fosse substituído por um outro menos caprichoso, com de facto veio a definir-se.
Depois existe a questão do método – chamar-lhe Tratado Europeu pela simples retirada da palavra “Constitucional”, da supressão da bandeira na segunda página (quando ela continua hasteada em todos os lugares onde já estava) e da referência ao Hino da Alegria como a música oficial da pátria europeia, para além de 3 pares de artigos filosófico-jurídicos de tom ligeiro e inofensivo. E pronto, aprova-se com 27 votos de Chefes de Estado e de Governo, quando milhões de franceses e holandeses o recusaram sem aquelas rectificações e não disseram nessas consultas populares que só não gostavam do hino, da bandeira e de algumas palavras como “constituição”! Depois ainda se coloca em dúvida se, mesmo nos países que tinham planeado ratificar o tratado por referendo, ele possa não se realizar. Estas questões terão que forçosamente nos fazer interrogar sobre a dignidade com que os políticos, neste caso da Pátria Europeia, tratam os seus concidadãos. Com que critério se submetem matérias a referendo? Ou bem que confiamos em quem elegemos por voto universal, directo e secreto, sujeitando-os apenas a novos julgamentos nos mesmos termos, e assim dispensamos referendos, ou então devemos ser todos nós, eleitores, a poder definir quais são as matérias que devem ser referendadas. Para não corremos o risco, pelo menos, de que nos consultem apenas quando se queira “sacudir a água do capote”, ou que, como no caso em concreto se meta pela janela o que não passou pela porta.
Por fim, coloca-se talvez ainda a questão da oportunidade. É agradável pensarmos que o Tratado vai ser conhecido como “de Lisboa” e que, por isso até, veio no tempo certo. Mas irá esta Europa, com este tratado, ainda a tempo de construir algo de politicamente tão relevante que a faça distinguir-se no plano da decisão mundial? Basta talvez olharmos para o ano em que os novos mecanismos de aprovação de votos irá ter lugar para que se nos levante tal interrogação – 2014. Aí vamos ter um novo sistema de apuramento da expressão da maioria no seio da Europa-27 que irá agilizar o processo de decisão da UE e colocar-nos assim quase em pé de igualdade com os EUA. Os grandes problemas desta frase são o “quase”, pois os Estados Unidos nunca precisarão de duplas maiorias e desvios a possíveis bloqueios temporais: basta-lhes o Presidente, ou em certas matérias o Presidente e o Congresso, para que uma decisão seja tomada. A outra grande diferença é que já o fazem agora, e nós só poderemos ter esse esquema mais simplificado e ágil daqui por 7 anos. Durante esse tempo, muita coisa mudará no mundo, muitas decisões ágeis vão precisar de ser tomadas. Por exemplo, nesse período, veremos provavelmente confirmar-se o insucesso da Agenda de Lisboa, aprovada no consulado Guterres, e que previa a liderança económica europeia até ao final da década, o que está muito longe de poder suceder.
Oxalá o Tratado só tenha em comum o nome da cidade e não venha a ter a mesma sorte que a Agenda.
Parece óbvio que este pensamento é consensual nos corredores da burocracia europeia. Pelo menos, assim tem sido relatado. Quanto ao chamado cidadão comum, talvez tenha dada a mesma importância aos épicos trabalhos de Sócrates, Amado, Lobo Antunes e seus séquitos quanto deu à prestação da amadora selecção de râguebi no recente campeonato do mundo.
A Europa vive há muito tempo na perseguição da utopia de se poder formar como massa política tão uniforme como os Estados Unidos, a China ou o Japão. Apaixona-se pelo sonho de fomentar um espírito europeu único, como se essa coisa da língua, da profunda cultura histórica ou dos mais simples costume quotidianos, tão distintos entre eslavos e latinos, ou até entre portugueses e espanhóis, sejam fundidos por um mero tratado, com nome de constitucional ou sem ele.
Por muito “contra-a-corrente” que me arrisque a ser, tenho para mim que este tratado não possui assim tanto de mérito, de método e de oportunidade.
De mérito desde logo porque a maioria das questões acordadas pelos Chefes de Estado e de Governo eram matérias pacíficas e desprovidas de polémica, por muito que se engrandeça a trabalho das diplomacias portuguesa e alemã, com aplausos aos intensos trabalhos de bastidores. Não vejo sinceramente tanta dificuldade num consenso em torno da definição da eleição de um Presidente da Comissão por 2 anos e meio, mesmo que se alegue que agora somos 27 e não 15. Ou que pudesse ser assim tão difícil que todos estivessem de acordo sobre a designação de uma espécie de Ministro dos Negócios Estrangeiros da UE. Fica então o mérito do “porreiro, pá” para o deslindar da questão italiana, que não queria ter menos um deputado que o Reino Unido, só ultrapassada pela grande visão estratégica da presidência portuguesa, que resolveu não contando com o lugar de presidente do Parlamento Europeu para as contas dos deputados! Fantástico e soberbo, diriam certamente Descartes, Einstein ou Sócrates (o grego). Enfim, existia ainda o delicado tema polaco, cuja cúpula familiar fazia questão de bater o pé para poder levar uma vitória internacional nas eleições de três dias depois. Engoliu-se a exigência polaca, e o caso acabou resolvido, já que não era possível, pelos vistos, fazer a cimeira uma semana depois, quando era mais do que previsível que o partido governamental fosse substituído por um outro menos caprichoso, com de facto veio a definir-se.
Depois existe a questão do método – chamar-lhe Tratado Europeu pela simples retirada da palavra “Constitucional”, da supressão da bandeira na segunda página (quando ela continua hasteada em todos os lugares onde já estava) e da referência ao Hino da Alegria como a música oficial da pátria europeia, para além de 3 pares de artigos filosófico-jurídicos de tom ligeiro e inofensivo. E pronto, aprova-se com 27 votos de Chefes de Estado e de Governo, quando milhões de franceses e holandeses o recusaram sem aquelas rectificações e não disseram nessas consultas populares que só não gostavam do hino, da bandeira e de algumas palavras como “constituição”! Depois ainda se coloca em dúvida se, mesmo nos países que tinham planeado ratificar o tratado por referendo, ele possa não se realizar. Estas questões terão que forçosamente nos fazer interrogar sobre a dignidade com que os políticos, neste caso da Pátria Europeia, tratam os seus concidadãos. Com que critério se submetem matérias a referendo? Ou bem que confiamos em quem elegemos por voto universal, directo e secreto, sujeitando-os apenas a novos julgamentos nos mesmos termos, e assim dispensamos referendos, ou então devemos ser todos nós, eleitores, a poder definir quais são as matérias que devem ser referendadas. Para não corremos o risco, pelo menos, de que nos consultem apenas quando se queira “sacudir a água do capote”, ou que, como no caso em concreto se meta pela janela o que não passou pela porta.
Por fim, coloca-se talvez ainda a questão da oportunidade. É agradável pensarmos que o Tratado vai ser conhecido como “de Lisboa” e que, por isso até, veio no tempo certo. Mas irá esta Europa, com este tratado, ainda a tempo de construir algo de politicamente tão relevante que a faça distinguir-se no plano da decisão mundial? Basta talvez olharmos para o ano em que os novos mecanismos de aprovação de votos irá ter lugar para que se nos levante tal interrogação – 2014. Aí vamos ter um novo sistema de apuramento da expressão da maioria no seio da Europa-27 que irá agilizar o processo de decisão da UE e colocar-nos assim quase em pé de igualdade com os EUA. Os grandes problemas desta frase são o “quase”, pois os Estados Unidos nunca precisarão de duplas maiorias e desvios a possíveis bloqueios temporais: basta-lhes o Presidente, ou em certas matérias o Presidente e o Congresso, para que uma decisão seja tomada. A outra grande diferença é que já o fazem agora, e nós só poderemos ter esse esquema mais simplificado e ágil daqui por 7 anos. Durante esse tempo, muita coisa mudará no mundo, muitas decisões ágeis vão precisar de ser tomadas. Por exemplo, nesse período, veremos provavelmente confirmar-se o insucesso da Agenda de Lisboa, aprovada no consulado Guterres, e que previa a liderança económica europeia até ao final da década, o que está muito longe de poder suceder.
Oxalá o Tratado só tenha em comum o nome da cidade e não venha a ter a mesma sorte que a Agenda.
domingo, 14 de outubro de 2007
Alto Risco de Norte - part I
“Portugal é Lisboa e o resto é paisagem” cantava o melancólico fado nacional ao tilintar das moedas de 25 mil reis, ao gosto do arroz de quinze, à vista das obras de Duarte Pacheco e ao sabor dos golos do Eusébio. Para fechar os sentidos, as popularuchas marchas de Sto. António gritaram alegremente “cheira bem, cheira a Lisboa”, toada sobranceira que vai persistindo até aos nossos dias, e que para alguns não passa de um mero pleonasmo do primeiro triste fado. Para os mais ricos de espírito, o resto do País não tem evidentemente odor agradável.
Porém, a dado momento da História Contemporânea Portuguesa, uma estranha força nortenha, propulsionada pela concentração das agora chamadas “indústrias tradicionais” (e que por sua vez era movida pela força do trabalho e pela tenacidade das buçais gentes de rude sotaque), obrigou o País a reconhecer um outro grande pólo de desenvolvimento nacional nos territórios antes ainda apelidados de Portucale. Porta-estandartes desse novo capital de enriquecimento eram, por exemplo, Afonso Pinto de Magalhães, Soares da Costa, Salvador Caetano, Américo Amorim, as famalicenses famílias Melo e Oliveira, vários outros “clãs” de Braga, Trofa, Guimarães ou Vila do Conde, notáveis advogados como Miguel Veiga ou o próprio Francisco Sá Carneiro. Parecia então, de facto, que a Nação podia, enfim, deixar de ter um certo cariz terceiro-mundista, tão típico ainda hoje de diversos estados africanos, sul-americanos ou asiáticos, onde prevalece o lema “uma grande capital e decoração em seu redor”.
Como confirmarão certamente vários sociólogos, nos quais me atrevo a incluir António Barreto (que aliás muito admiro enquanto opinion-maker, mas que desconheço se se disporá a “enfiá-lo” a si próprio neste caso), as décadas de 60 a 80 permitiram um período de ouro ao Norte, com valores de PIB per capita efectivamente invejáveis. A dinâmica contributiva para os cofres nacionais atingiu cinéticas nunca antes registadas em qualquer etapa pós-Port Wine, induzindo níveis de qualidade de vida absolutamente ímpares, tanto para os nortenhos eles próprios, como para o “todo nacional”. Entretanto, a distribuição dos cobres europeus sofreu vezes e revezes, normalmente a contra-sabor dos campeonatos de futebol de azul-e-branco pintados. “Com a auto-estima elevada pelas vitórias na bola, o norte vai-se entretendo” poderá certamente ter-se pensado no Terreiro do Paço. Coincidência ou não, quando a Avenida dos Aliados buzina e desfralda bandeiras por vitórias sobre relva, não canta normalmente vitória por ter sido capaz de captar fundos da administração central.
Torna-se contudo absolutamente inegável que, desde o 2º governo de Cavaco Silva, o peso político do Norte foi-se tornando de uma pluminha leveza. Hoje assistimos a uma grotesca concentração de investimento público e de incentivos às grandes realizações privadas na zona de Lisboa, de que o novo aeroporto é apenas o vértice do icebergue, e as “7 maravilhas nacionais” um mero pré-cozinhado toque de humor de gosto duvidoso. Fomos e vamos sendo alertados para tudo isto, cada um a seu estilo, pelos mais recentes rostos nortenhos como Belmiro de Azevedo, Artur Santos Silva, Ludgero Marques, Pinto da Costa, clã Loureiro, Fernando Gomes (o político), Daniel Bessa, Valente de Oliveira, Silva Peneda, Couto dos Santos, etc.., secundados em palco por uma luxuosa entourage de distintos snipers como Pôncio Monteiro ou Manuel Serrão, Alexandre Quintanilha ou Teresa Lago, José Rodrigues ou Jaime Isidoro, Carlos Magno ou Rodrigo Guedes de Carvalho, ou até Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes (!)
Como declaração de princípios, devo dizer que, logo após cidadão do mundo, me considero orgulhoso português, antes de nortenho e de portuense. Não desejo ver Lisboa a arder, nem sequer defendo que LVT signifique “Lisboa Vale pelo Tejo”, muito menos “Lisboa Vai pelo Tejo”. Gostava de continuar a ver no meu País uma grande capital, mas capaz de dinamizar outras regiões fortes, sem temor de concorrência nem risco de se auto-implodir de tão aglutinadora que se faz.Por isso, tanto confio na nova geração de nomes nortenhos, credíveis, tenazes, equilibrados e “inlisbonizáveis”, tais como Rui Rio, Alberto Castro, Rui Moreira, Francisco Assis, Sobrinho Simões, Luís Ferreira, Paulo Nunes de Almeida, Manuel Teixeira ou Bruno Carvalho. Peço-lhes pois que não me deixem ficar mal. Corrijo, por favor, não nos deixem ficar mal. Assim seja, assim se faça uma boa malha.
Porém, a dado momento da História Contemporânea Portuguesa, uma estranha força nortenha, propulsionada pela concentração das agora chamadas “indústrias tradicionais” (e que por sua vez era movida pela força do trabalho e pela tenacidade das buçais gentes de rude sotaque), obrigou o País a reconhecer um outro grande pólo de desenvolvimento nacional nos territórios antes ainda apelidados de Portucale. Porta-estandartes desse novo capital de enriquecimento eram, por exemplo, Afonso Pinto de Magalhães, Soares da Costa, Salvador Caetano, Américo Amorim, as famalicenses famílias Melo e Oliveira, vários outros “clãs” de Braga, Trofa, Guimarães ou Vila do Conde, notáveis advogados como Miguel Veiga ou o próprio Francisco Sá Carneiro. Parecia então, de facto, que a Nação podia, enfim, deixar de ter um certo cariz terceiro-mundista, tão típico ainda hoje de diversos estados africanos, sul-americanos ou asiáticos, onde prevalece o lema “uma grande capital e decoração em seu redor”.
Como confirmarão certamente vários sociólogos, nos quais me atrevo a incluir António Barreto (que aliás muito admiro enquanto opinion-maker, mas que desconheço se se disporá a “enfiá-lo” a si próprio neste caso), as décadas de 60 a 80 permitiram um período de ouro ao Norte, com valores de PIB per capita efectivamente invejáveis. A dinâmica contributiva para os cofres nacionais atingiu cinéticas nunca antes registadas em qualquer etapa pós-Port Wine, induzindo níveis de qualidade de vida absolutamente ímpares, tanto para os nortenhos eles próprios, como para o “todo nacional”. Entretanto, a distribuição dos cobres europeus sofreu vezes e revezes, normalmente a contra-sabor dos campeonatos de futebol de azul-e-branco pintados. “Com a auto-estima elevada pelas vitórias na bola, o norte vai-se entretendo” poderá certamente ter-se pensado no Terreiro do Paço. Coincidência ou não, quando a Avenida dos Aliados buzina e desfralda bandeiras por vitórias sobre relva, não canta normalmente vitória por ter sido capaz de captar fundos da administração central.
Torna-se contudo absolutamente inegável que, desde o 2º governo de Cavaco Silva, o peso político do Norte foi-se tornando de uma pluminha leveza. Hoje assistimos a uma grotesca concentração de investimento público e de incentivos às grandes realizações privadas na zona de Lisboa, de que o novo aeroporto é apenas o vértice do icebergue, e as “7 maravilhas nacionais” um mero pré-cozinhado toque de humor de gosto duvidoso. Fomos e vamos sendo alertados para tudo isto, cada um a seu estilo, pelos mais recentes rostos nortenhos como Belmiro de Azevedo, Artur Santos Silva, Ludgero Marques, Pinto da Costa, clã Loureiro, Fernando Gomes (o político), Daniel Bessa, Valente de Oliveira, Silva Peneda, Couto dos Santos, etc.., secundados em palco por uma luxuosa entourage de distintos snipers como Pôncio Monteiro ou Manuel Serrão, Alexandre Quintanilha ou Teresa Lago, José Rodrigues ou Jaime Isidoro, Carlos Magno ou Rodrigo Guedes de Carvalho, ou até Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes (!)
Como declaração de princípios, devo dizer que, logo após cidadão do mundo, me considero orgulhoso português, antes de nortenho e de portuense. Não desejo ver Lisboa a arder, nem sequer defendo que LVT signifique “Lisboa Vale pelo Tejo”, muito menos “Lisboa Vai pelo Tejo”. Gostava de continuar a ver no meu País uma grande capital, mas capaz de dinamizar outras regiões fortes, sem temor de concorrência nem risco de se auto-implodir de tão aglutinadora que se faz.Por isso, tanto confio na nova geração de nomes nortenhos, credíveis, tenazes, equilibrados e “inlisbonizáveis”, tais como Rui Rio, Alberto Castro, Rui Moreira, Francisco Assis, Sobrinho Simões, Luís Ferreira, Paulo Nunes de Almeida, Manuel Teixeira ou Bruno Carvalho. Peço-lhes pois que não me deixem ficar mal. Corrijo, por favor, não nos deixem ficar mal. Assim seja, assim se faça uma boa malha.
quarta-feira, 5 de setembro de 2007
Alto RISCO de NORTE! - part II
Devo repetir e sublinhar, antes de mais, a minha ordem de valores de cidadania, de modo a tentar evitar eventuais interpretações desconformes as intenções do texto, como após a publicação da primeira parte desta coluna de opinião, em 01/09: imediatamente após cidadão do mundo, considero-me essencialmente orgulhoso português, e apenas depois disso, nortenho e portuense. Gosto muito, pois, do meu País, com todas as suas virtudes e deficiências. Não teria mesmo pejo em aplicar esse verbo tão poético quanto emocionalmente assustador para reconstruir a frase anterior – amo o meu País. Sou, enfim, daqueles que não admite sequer outro alguém mais patriótico, quanto muito tão patriótico como.
Redito isto, manda a preocupação de médio-longo prazo voltar a reflectir sobre a contínua sucção de investimento público e de apostas estratégicas na região de Lisboa. É muito bom podermo-nos orgulhar de uma capital digna, evoluída e atractiva, que possa naturalmente conter singularidades e ex-libris próprios daquilo que seja a principal cidade no campo político. Mas o que resulta em alguma indignação é que a “intensidade” (para usar termo bastante em voga) dessas singularidades tomem proporções exageradas relativamente a outras cidades e regiões importantes. Dito de forma mais rude, que tal se possa verificar por contraponto do “sacrifício” de outras áreas do País.
Não será por certo difícil de concordar que Alto Minho, Trás-os-Montes, Alto Douro, Beiras e Alentejo estão ávidos de políticas estatais de atracção de investimento privado e carentes de mais recursos financeiros públicos. Muito têm inegavelmente feito todas essas gentes pelos seus territórios, tentando castrar o fluxo migratório para as grandes urbes, criando condições de atractividade, bem-estar, desenvolvimento. Mas mais chocante ainda é ver os distritos do Porto e de Braga (outrora, não muito distante, o principal eixo de desenvolvimento económico de Portugal) catapultados para níveis de rendimento per capita e de qualidade de vida apenas comparáveis aos do Alentejo profundo, bem posicionados numa fina camada da cauda europeia. Chocante e intrigante é, possivelmente à vista de muitos atentos observadores, como os povos foz-duriense e minhoto se deixaram sujeitar a tamanhos desníveis.
Não se subestime porém a capacidade de criar consciência e a capacidade reactiva das massas nortenhas. Não percamos de memória nem o espírito de sacrifício que muitas vezes exibiram ao longo do tempo, nem, por outro lado, quantas contestações, revoltas ou embriões revolucionários foram capazes de gerar. Lembrar que do Porto e das gentes do norte partiram acções político-sociais das mais relevantes da nossa história contemporânea pode até ser considerado, neste contexto, dramatismo exacerbado, mais facilmente por certo do que visionarismo lírico, mas a própria história das crises e revoltas a norte já se encarregou de provar que, às vezes, ela até é capaz de se repetir a si própria.
À toa não terá sido certamente que se começou a debater a vitalidade das chamadas euro-regiões, a mais falada das quais no plano ibérico tem sido inegavelmente a Eurorexión. Quem acompanhou com cuidado a própria última campanha autárquica no Porto, constatou uma quase unanimidade de forças políticas em torno da defesa do Porto como cidade-referência do noroeste peninsular. Embora com algumas pequenas dissonâncias, por exemplo, quanto a apostas em vertentes culturais de desenvolvimento (da ciência à arquitectura, das artes aos espectáculos), foi absolutamente consensual, por exemplo, que Francisco Sá Carneiro deveria consolidar a posição de principal aeroporto da área “Norte de Portugal / Galiza”, bem como que Leixões (acompanhado de Viana do Castelo e Aveiro) deveria rivalizar com os portos da Coruña e de Vigo. Poderá ainda faltar o tão badalado TGV, que disso muito mais se depende do poder central, bem apostado em somente ligar as duas principais cidades do País e de completar o satelitismo de Madrid até à nossa costa. Mas estará contudo já em marcha o embrião da Porto-Galização?
São talvez meros sinais de inconformismo. Que, a bem de todo o País, só serão certamente contornados de maneira eficaz através de um processo de regionalização efectiva. Poderá ser um erro crasso insistir nas teses das ameaças divisionistas para continuar a defender o centralismo. Muito pelo contrário, quem bem conhece o povo nortenho pode legitimamente defender que a não-regionalização será, nos cenários actuais e de futuro próximo, muito mais fomentadora desses riscos.
Oxalá a administração central não acentue o voltar de costas ao norte. Porque a partir do Porto, e de outros pontos do norte, também se sabe voltar as costas. E se isso viesse a suceder, ali mesmo, em frente, está a Galiza.
Redito isto, manda a preocupação de médio-longo prazo voltar a reflectir sobre a contínua sucção de investimento público e de apostas estratégicas na região de Lisboa. É muito bom podermo-nos orgulhar de uma capital digna, evoluída e atractiva, que possa naturalmente conter singularidades e ex-libris próprios daquilo que seja a principal cidade no campo político. Mas o que resulta em alguma indignação é que a “intensidade” (para usar termo bastante em voga) dessas singularidades tomem proporções exageradas relativamente a outras cidades e regiões importantes. Dito de forma mais rude, que tal se possa verificar por contraponto do “sacrifício” de outras áreas do País.
Não será por certo difícil de concordar que Alto Minho, Trás-os-Montes, Alto Douro, Beiras e Alentejo estão ávidos de políticas estatais de atracção de investimento privado e carentes de mais recursos financeiros públicos. Muito têm inegavelmente feito todas essas gentes pelos seus territórios, tentando castrar o fluxo migratório para as grandes urbes, criando condições de atractividade, bem-estar, desenvolvimento. Mas mais chocante ainda é ver os distritos do Porto e de Braga (outrora, não muito distante, o principal eixo de desenvolvimento económico de Portugal) catapultados para níveis de rendimento per capita e de qualidade de vida apenas comparáveis aos do Alentejo profundo, bem posicionados numa fina camada da cauda europeia. Chocante e intrigante é, possivelmente à vista de muitos atentos observadores, como os povos foz-duriense e minhoto se deixaram sujeitar a tamanhos desníveis.
Não se subestime porém a capacidade de criar consciência e a capacidade reactiva das massas nortenhas. Não percamos de memória nem o espírito de sacrifício que muitas vezes exibiram ao longo do tempo, nem, por outro lado, quantas contestações, revoltas ou embriões revolucionários foram capazes de gerar. Lembrar que do Porto e das gentes do norte partiram acções político-sociais das mais relevantes da nossa história contemporânea pode até ser considerado, neste contexto, dramatismo exacerbado, mais facilmente por certo do que visionarismo lírico, mas a própria história das crises e revoltas a norte já se encarregou de provar que, às vezes, ela até é capaz de se repetir a si própria.
À toa não terá sido certamente que se começou a debater a vitalidade das chamadas euro-regiões, a mais falada das quais no plano ibérico tem sido inegavelmente a Eurorexión. Quem acompanhou com cuidado a própria última campanha autárquica no Porto, constatou uma quase unanimidade de forças políticas em torno da defesa do Porto como cidade-referência do noroeste peninsular. Embora com algumas pequenas dissonâncias, por exemplo, quanto a apostas em vertentes culturais de desenvolvimento (da ciência à arquitectura, das artes aos espectáculos), foi absolutamente consensual, por exemplo, que Francisco Sá Carneiro deveria consolidar a posição de principal aeroporto da área “Norte de Portugal / Galiza”, bem como que Leixões (acompanhado de Viana do Castelo e Aveiro) deveria rivalizar com os portos da Coruña e de Vigo. Poderá ainda faltar o tão badalado TGV, que disso muito mais se depende do poder central, bem apostado em somente ligar as duas principais cidades do País e de completar o satelitismo de Madrid até à nossa costa. Mas estará contudo já em marcha o embrião da Porto-Galização?
São talvez meros sinais de inconformismo. Que, a bem de todo o País, só serão certamente contornados de maneira eficaz através de um processo de regionalização efectiva. Poderá ser um erro crasso insistir nas teses das ameaças divisionistas para continuar a defender o centralismo. Muito pelo contrário, quem bem conhece o povo nortenho pode legitimamente defender que a não-regionalização será, nos cenários actuais e de futuro próximo, muito mais fomentadora desses riscos.
Oxalá a administração central não acentue o voltar de costas ao norte. Porque a partir do Porto, e de outros pontos do norte, também se sabe voltar as costas. E se isso viesse a suceder, ali mesmo, em frente, está a Galiza.
quinta-feira, 28 de junho de 2007
segunda-feira, 25 de junho de 2007
PORTUGAL LÁ LONGE...
Cerca de 800 km tem Portugal Continental, desde as fronteiras do Alto Minho até à costa algarvia. Cerca de 800 km separam também a ilha açoriana mais próxima do Continente, Santa Maria, e aquela que mais distante fica, o Corvo, essa “enorme rocha” de 19 km2, que surge nos mapas televisivos do boletim meteorológico como um simples ponto a norte da “gigante” ilha das Flores. O Corvo está a mais de 2000 km da cidade do Porto e a quase um dia de avião. No Portugal de hoje, é o lugar mais distante da sua capital.
Recentemente, “acampei” no Corvo durante uma semana. Tempo suficiente para conhecer quase todos os menos de 400 habitantes da ilha e alguns dos “imigrantes” que lá estão destacados.
Numa primeira impressão, senti-me numa pequena aldeia transmontana, isolada, por alturas dos anos 70. A ilha não tem farmácia, mas um pequeno posto de medicamentos. Precisei de um mero xarope, cerca das 16.30h, tinha já o posto encerrado meia-hora antes. Por assunto tão pequeno, não iria fazer um telefonema de urgência para o número afixado. Mas alguém, ao ver-me plantado na porta fechada, de imediato alertou a funcionária dos serviços públicos do outro lado da rua, que fez uma chamada para o responsável do posto, apesar dos meus insistentes avisos de que poderia bem esperar pelo dia seguinte. Passados pouco mais de 10 minutos, foi-me vendido o xarope e oferecido um pedido de desculpas pela demora, pois o “farmacêutico” estava no meio de uma operação de soldadura, num trabalho em prol dos festejos pascais da ilha. O ar ofegante e as galochas nem o deixavam mentir. E eu senti-me pior do que se não tivesse tomado o xarope…
Mas a este perfume do Portugal hospitaleiro e generoso, no seu mais elevado grau, juntam-se um sem número de outras situações que poderiam bem servir de lição a quem sinta dificuldades de viver em comunidade ou a quem nelas possa interferir positivamente.
Por exemplo, como não há transportes públicos, as deslocações de quem não tem veículo são todas feitas “à boleia” ou em carro emprestado. Eu conduzi a carrinha de um continental que, por aquela época, tinha voado para rever a família, e não me conhecia de lado algum.
Peixe também não se compra. Pesca-se e come-se, ou pesca-se e oferece-se aos outros da ilha. Enfim, há peixe que se pesca e se vende para o Continente.
Aqui exactamente deixamos a aldeia portuguesa dos anos 70 e entramos nas peripécias de um território da União Europeia do século XXI. O peixe é leiloado na lota a representantes locais de compradores de outras ilhas ou de continentais. Nas conversas de café (porque os três cafés do Corvo substituem os jornais da ilha), diz-se à boca cheia que há “interesses cruzados” entre a venda na lota e as reservas de carga nos poucos aviões que de lá descolam. Parece um sinal de evolução. E, se assim for, já me sinto num Portugal mais “avançado”. Também “leio” nesse “jornal” que já houve edil que conseguiu permissão de construção da sua casa em lindo sopé da protegida costa. De facto, o local é tanto de fazer inveja, como é de intrigante a sua viabilidade ambiental. Mas precisamente por poder provocar fácil inveja e porque não me sinto no mínimo direito, nem no dever, de mergulhar em tema tal, prescindi de formar um completo juízo próprio. Mas recolhi talvez mais um sinal do país moderno. Ao lado destes e de outros “assuntos de Estado” para os corvinos, e, tanto mais, depois de se ter visto Nicholas Sarkozy mais recentemente na cimeira do G-8, o alegado estado ébrio frequente de um dos mais altos responsáveis políticos da ilha não passará de um mero fait-divers.
Prefiro naturalmente o Corvo que me apareceu à porta da “farmácia”. Ou o Corvo que, apesar de ficar quase tão perto da Terra Nova canadiana como da nossa costa continental, não deixa escapar uma única notícia importante do Continente, quando muitas delas passam completamente despercebidas a tantos habitantes dos subúrbios das grandes cidades. E é muito reconfortante encontrar no Corvo, aquele pedaço de rocha com 19 km2 que brotou mesmo no meio do Atlântico, uma das mais baixas taxas de analfabetismo de todo o País.
Um dia mais tarde, quem sabe, poderei voltar a ver o Corvo. Se isso acontecer de facto, não irei movido pela ideia de verificar se a casa construída nas rochas cresceu ou se desfez. Não me entusiasmará particularmente confirmar se o “check-in” do peixe é mesmo feito a partir da lota. Nem muito menos entrarei com um “teste do balão” no edifício da Câmara Municipal.
Mas muito gostaria de voltar a ver que ainda se pesca para se dar ao vizinho. Que ainda se emprestam os automóveis a quem mal ou nada se conhece, e se continuam a deixar sempre as chaves na fechadura da ignição. Que se mantém o hábito de gastar tanto tempo em gratuitos trabalhos necessários ao colectivo, como na própria profissão, ou na vida pessoal. Que, mesmo que não haja farmácia nem farmacêutico, se continua a não deixar ninguém sem medicamento.
Esse é justamente o Portugal de que mais me orgulho. E que afinal ainda existe…
No Corvo.
terça-feira, 29 de maio de 2007
Generalizações arriscadas
É tradicional na nossa cultura usarem-se e fomentarem-se as generalizações. Mas também a tradição, aliada ao bom-senso secular, adverte para o cuidado que se deve ter ao fazer uso das generalizações, porquanto podem não ser correctas as ideias ou designações e, independentemente disso, corre-se o risco de dar origem a dinâmicas de perturbação de todos quantos, apesar de pertencentes a um colectivo “rotulado”, nele se não identificam em vários aspectos ou mesmo quanto ao “rótulo”.
Um dos mais recentes “rótulos” económicos implementados nacionalmente é o de apelidar “tradicionais” indústrias como a têxtil, o vestuário, os curtumes e o calçado, que ainda há pouco mais de uma década, representavam 50% das exportações portuguesas.
Uma certa nova elite de visionários parece até pretender culpar estas indústrias pelas inércias de desenvolvimento económico, ignorando o enorme papel que elas tiveram, e continuam a ter, em muito do que o País tem de positivo.
Cada vez mais, estes sectores são olhados como áreas rudimentares de negócio, cujas actividades e práticas começam a pertencer às memórias do país moderno que pretendemos ser. Ora, nestes pensamentos que vão constantemente alargando a base de apologistas pseudo-convencidos, verifica-se um gigantesco erro, ainda maior do que a ilusão de considerar o nosso País à beira da modernidade: existem numerosas empresas dos referidos sectores, ditos “tradicionais”, que sempre apostaram em factores de competitividade economicamente eficientes e nunca perderam o rumo da qualificação, que se pautam por práticas de gestão ao nível das melhores e que, por isso, mantêm uma solidez económica e uma saúde de negócio que lhes permite continuar a assegurar preciosos empregos e a contribuir decisivamente para a riqueza nacional, independentemente de terem ou não tido alguma quebra no seu ritmo de crescimento ou alguns anos financeiramente menos bons. Na realidade, lidaram e continuarão a lidar, durante algum tempo por certo, com dificuldades conjunturais diferentes de outros sectores e com problemas macroeconómicos que lhes exigiram e exigem mais esforço de revalorização. Por esses factos, muitas empresas encerraram e outras encerrarão certamente, mas convenhamos que as que permanecem em actividade estável e controlada serão provavelmente dos melhores exemplos nacionais de tenacidade, de capacidade de adaptação, e, porque não dizê-lo, de capacidade de inovação e de empreendedorismo.
Será assim legítimo transformar este vocábulo “tradicional” como algo com cariz pejorativo e catalogá-las, a todas elas, como elementos de “sectores de risco”?
Efectivamente, “sector de risco” é a expressão utilizada, todos os dias, com maior ou menor pudor, pelos organismos públicos e pelas políticas governamentais, pela banca e pelos restantes agentes financeiros, pelos académicos seminaristas e outros opinion-makers cujo universo de análise se restringe aos elementos estatísticos e à bibliografia internética. Acrescentando, portanto, ao já de si inconveniente rótulo de “tradicional”, uma nova generalização ainda mais discutível e nefasta – “sector de risco”.
Dito de outra forma, e rectificando o “pecado” da minha própria generalização, não significa que, presentemente, uma empresa têxtil não possa colher apoio de programas públicos a um projecto de investimento seu, mas, para tal, ele terá certamente que ser muito melhor que um projecto apresentado por uma empresa informática. Será eventualmente possível que uma empresa de confecção de vestuário ou de calçado veja aprovado um satisfatório plano de financiamento por parte de um banco comercial, mas, para que na prática isso suceda, os seus indicadores económicos e as contas dos últimos exercícios deverão ser muito mais positivos do que se se tratasse de uma empresa de formação profissional.
Embora se esteja progressivamente a instalar a ideia de que os negócios mais confiáveis se situam em áreas como a dos serviços ou a das tecnologias de informação, todo o discurso que recomenda a inovação, a investigação e desenvolvimento, a ciência aplicada ou as novas tecnologias é tão aplicável às “indústrias tradicionais” como a outra qualquer indústria ou área de actividade, e é na realidade adoptado por numerosas empresas da ITV ou do calçado, pelo que seria arrogância considerá-lo exclusivos das empresas que se movem na “nova economia”.
Estes “carimbos” e generalizações são efectivamente perigosos e perturbam inevitavelmente os que vão conseguindo contrariar as dificuldades em comum. Há 20 anos, falávamos da agricultura como o nosso principal “sector de risco”, sem ter havido a capacidade de individualizar ou de sub-sectorializar. Hoje verificamos que a fruticultura, os cereais e outras culturas de regadio fracassaram, mas o sub-sector dos vinhos prospera e a agricultura biológica desponta com boas perspectivas. Não porque tenham existido políticas de apoio selectivo, mas porque esses sub-sectores resistiram melhor pelo facto se identificarem intrinsecamente com o nosso valioso know-how tradicional, que acabou por funcionar como uma decisiva vantagem competitiva angariada geracionalmente. Daqui a 20 anos, decerto contaremos com uma indústria têxtil menos extensa, mas provavelmente seremos dos melhores do mundo no sub-sector das malhas, com várias empresas a operar com sucesso nesta área, pois aí detemos um capital histórico de conhecimento que nos distingue do de outros países que mais recentemente enveredaram pela mesma via. Assim já previa o economista americano Michael Porter, há 20 anos – apostar nos vinhos dentro da agricultura, nas malhas dentro da indústria têxtil.
Mas caso não haja a sensibilidade e a competência para distinguir sub-sectores e outros pequenos universos dentro dos sectores de actividade, que pelo menos se diminuam as falácias generalistas, deixando-se de empregar tão facilmente expressões como a de “sectores de risco”. Aliás, o mero bom-senso dever-nos-ia transmitir que, muito mais do que sectores, existirão empresas ou empresários de risco.
In "O PRIMEIRO DE JANEIRO", 27/04/2007
Um dos mais recentes “rótulos” económicos implementados nacionalmente é o de apelidar “tradicionais” indústrias como a têxtil, o vestuário, os curtumes e o calçado, que ainda há pouco mais de uma década, representavam 50% das exportações portuguesas.
Uma certa nova elite de visionários parece até pretender culpar estas indústrias pelas inércias de desenvolvimento económico, ignorando o enorme papel que elas tiveram, e continuam a ter, em muito do que o País tem de positivo.
Cada vez mais, estes sectores são olhados como áreas rudimentares de negócio, cujas actividades e práticas começam a pertencer às memórias do país moderno que pretendemos ser. Ora, nestes pensamentos que vão constantemente alargando a base de apologistas pseudo-convencidos, verifica-se um gigantesco erro, ainda maior do que a ilusão de considerar o nosso País à beira da modernidade: existem numerosas empresas dos referidos sectores, ditos “tradicionais”, que sempre apostaram em factores de competitividade economicamente eficientes e nunca perderam o rumo da qualificação, que se pautam por práticas de gestão ao nível das melhores e que, por isso, mantêm uma solidez económica e uma saúde de negócio que lhes permite continuar a assegurar preciosos empregos e a contribuir decisivamente para a riqueza nacional, independentemente de terem ou não tido alguma quebra no seu ritmo de crescimento ou alguns anos financeiramente menos bons. Na realidade, lidaram e continuarão a lidar, durante algum tempo por certo, com dificuldades conjunturais diferentes de outros sectores e com problemas macroeconómicos que lhes exigiram e exigem mais esforço de revalorização. Por esses factos, muitas empresas encerraram e outras encerrarão certamente, mas convenhamos que as que permanecem em actividade estável e controlada serão provavelmente dos melhores exemplos nacionais de tenacidade, de capacidade de adaptação, e, porque não dizê-lo, de capacidade de inovação e de empreendedorismo.
Será assim legítimo transformar este vocábulo “tradicional” como algo com cariz pejorativo e catalogá-las, a todas elas, como elementos de “sectores de risco”?
Efectivamente, “sector de risco” é a expressão utilizada, todos os dias, com maior ou menor pudor, pelos organismos públicos e pelas políticas governamentais, pela banca e pelos restantes agentes financeiros, pelos académicos seminaristas e outros opinion-makers cujo universo de análise se restringe aos elementos estatísticos e à bibliografia internética. Acrescentando, portanto, ao já de si inconveniente rótulo de “tradicional”, uma nova generalização ainda mais discutível e nefasta – “sector de risco”.
Dito de outra forma, e rectificando o “pecado” da minha própria generalização, não significa que, presentemente, uma empresa têxtil não possa colher apoio de programas públicos a um projecto de investimento seu, mas, para tal, ele terá certamente que ser muito melhor que um projecto apresentado por uma empresa informática. Será eventualmente possível que uma empresa de confecção de vestuário ou de calçado veja aprovado um satisfatório plano de financiamento por parte de um banco comercial, mas, para que na prática isso suceda, os seus indicadores económicos e as contas dos últimos exercícios deverão ser muito mais positivos do que se se tratasse de uma empresa de formação profissional.
Embora se esteja progressivamente a instalar a ideia de que os negócios mais confiáveis se situam em áreas como a dos serviços ou a das tecnologias de informação, todo o discurso que recomenda a inovação, a investigação e desenvolvimento, a ciência aplicada ou as novas tecnologias é tão aplicável às “indústrias tradicionais” como a outra qualquer indústria ou área de actividade, e é na realidade adoptado por numerosas empresas da ITV ou do calçado, pelo que seria arrogância considerá-lo exclusivos das empresas que se movem na “nova economia”.
Estes “carimbos” e generalizações são efectivamente perigosos e perturbam inevitavelmente os que vão conseguindo contrariar as dificuldades em comum. Há 20 anos, falávamos da agricultura como o nosso principal “sector de risco”, sem ter havido a capacidade de individualizar ou de sub-sectorializar. Hoje verificamos que a fruticultura, os cereais e outras culturas de regadio fracassaram, mas o sub-sector dos vinhos prospera e a agricultura biológica desponta com boas perspectivas. Não porque tenham existido políticas de apoio selectivo, mas porque esses sub-sectores resistiram melhor pelo facto se identificarem intrinsecamente com o nosso valioso know-how tradicional, que acabou por funcionar como uma decisiva vantagem competitiva angariada geracionalmente. Daqui a 20 anos, decerto contaremos com uma indústria têxtil menos extensa, mas provavelmente seremos dos melhores do mundo no sub-sector das malhas, com várias empresas a operar com sucesso nesta área, pois aí detemos um capital histórico de conhecimento que nos distingue do de outros países que mais recentemente enveredaram pela mesma via. Assim já previa o economista americano Michael Porter, há 20 anos – apostar nos vinhos dentro da agricultura, nas malhas dentro da indústria têxtil.
Mas caso não haja a sensibilidade e a competência para distinguir sub-sectores e outros pequenos universos dentro dos sectores de actividade, que pelo menos se diminuam as falácias generalistas, deixando-se de empregar tão facilmente expressões como a de “sectores de risco”. Aliás, o mero bom-senso dever-nos-ia transmitir que, muito mais do que sectores, existirão empresas ou empresários de risco.
In "O PRIMEIRO DE JANEIRO", 27/04/2007
terça-feira, 10 de abril de 2007
A ideia Ota
As discussões políticas, técnicas, económicas e financeiras acerca da construção do novo aeroporto de Lisboa acentuaram-se no preciso momento em que o INE divulgou a evolução real do défice orçamental do Estado em 2006. A nova operação de marketing por parte da profissionalíssima equipa de comunicação ao serviço do governo não terá tido, certamente, a intenção de fazer crer que afinal até poderemos ter meios libertos para financiar esse desígnio nacional chamado Ota, mas terá ajudado, de certa forma, a contrariar as teses desses “velhos do Restelo” que a consideram “um passo maior do que a perna”.
Será uma questão política essencialmente ou uma questão logística?
Deveria tratar-se de uma questão logística, com os seus óbvios reflexos no plano económico. Só depois de bem ponderada a problemática sob estes dois aspectos, logística e economicamente, seria legítimo avaliar o projecto dos pontos de vista técnico e financeiro. Mas, se se tratar de uma questão de natureza política, então avancemos sem grandes considerações.
Logisticamente, as primeiras interrogações deveriam ser:
1) Quando se esgota realmente a Portela? Quem nos garante que em 2013, 2017 ou 2030 haverá um fluxo de turistas, business travel, emigrantes/imigrantes ou passageiros acidentais assim tão elevado como nos fazem crer? Vendo casos como o “11 de Setembro” ou as profundas ameaças ao crescimento exponencial do preço do crude, poderemos prever com segurança se e quando o actual aeroporto se torna demasiadamente pequeno?
2) A impossibilidade física de crescimento brutal da Portela implicará que não se possam fazer adaptações/melhoramentos de forma a viabilizar um maior caudal de viajantes? Porque razão os balcões de check-in com números superiores ao 80 estão permanentemente vazios? Não fará todo o sentido fazer o melhor aproveitamento possível do espaço Portela, de forma a manter o fluxo de negócios e vôos de maior regularidade, deixando os eventuais défices de tráfego, charters turísticos incluídos, para outras paragens, mesmo que isso implique um novo pequeno aeroporto próximo da capital?
3) E porque razão se esgota alegadamente a Portela? Não haverá aqui influência de políticas cada vez mais centralistas que, para além dos legítimos interesses comerciais das companhias de aviação, induzam a que cada vez maior número de vôos tenham Lisboa como destino, ponto de partida ou de passagem obrigatória?
4) Será que o aeroporto Francisco Sá Carneiro está assim tão bem aproveitado e que não existe interesse comercial em ligar Porto a mais capitais europeias e da América Latina, aos Açores ou a mais cidades espanholas que não Madrid e Barcelona? E Faro, deve-se limitar estritamente aos voos charter turísticos e a uma singela ligação com Lisboa?
Política e especulativamente poderemos ainda interrogar-nos: promessas eleitorais e financiamentos de campanhas também contam para avultados desígnios nacionais como aeroportos ultra-modernos?
O que é certo é que já estão avançadas estas etapas e supostamente ultrapassadas estas questões sem que se tenham dado cabais esclarecimentos a elas. Já só se discute se vai haver Ota ou Rio Frio, com muitas ou poucas estacas e drenagens, com TGV mais cedo ou mais tarde. Pois, está claro.
Será uma questão política essencialmente ou uma questão logística?
Deveria tratar-se de uma questão logística, com os seus óbvios reflexos no plano económico. Só depois de bem ponderada a problemática sob estes dois aspectos, logística e economicamente, seria legítimo avaliar o projecto dos pontos de vista técnico e financeiro. Mas, se se tratar de uma questão de natureza política, então avancemos sem grandes considerações.
Logisticamente, as primeiras interrogações deveriam ser:
1) Quando se esgota realmente a Portela? Quem nos garante que em 2013, 2017 ou 2030 haverá um fluxo de turistas, business travel, emigrantes/imigrantes ou passageiros acidentais assim tão elevado como nos fazem crer? Vendo casos como o “11 de Setembro” ou as profundas ameaças ao crescimento exponencial do preço do crude, poderemos prever com segurança se e quando o actual aeroporto se torna demasiadamente pequeno?
2) A impossibilidade física de crescimento brutal da Portela implicará que não se possam fazer adaptações/melhoramentos de forma a viabilizar um maior caudal de viajantes? Porque razão os balcões de check-in com números superiores ao 80 estão permanentemente vazios? Não fará todo o sentido fazer o melhor aproveitamento possível do espaço Portela, de forma a manter o fluxo de negócios e vôos de maior regularidade, deixando os eventuais défices de tráfego, charters turísticos incluídos, para outras paragens, mesmo que isso implique um novo pequeno aeroporto próximo da capital?
3) E porque razão se esgota alegadamente a Portela? Não haverá aqui influência de políticas cada vez mais centralistas que, para além dos legítimos interesses comerciais das companhias de aviação, induzam a que cada vez maior número de vôos tenham Lisboa como destino, ponto de partida ou de passagem obrigatória?
4) Será que o aeroporto Francisco Sá Carneiro está assim tão bem aproveitado e que não existe interesse comercial em ligar Porto a mais capitais europeias e da América Latina, aos Açores ou a mais cidades espanholas que não Madrid e Barcelona? E Faro, deve-se limitar estritamente aos voos charter turísticos e a uma singela ligação com Lisboa?
Política e especulativamente poderemos ainda interrogar-nos: promessas eleitorais e financiamentos de campanhas também contam para avultados desígnios nacionais como aeroportos ultra-modernos?
O que é certo é que já estão avançadas estas etapas e supostamente ultrapassadas estas questões sem que se tenham dado cabais esclarecimentos a elas. Já só se discute se vai haver Ota ou Rio Frio, com muitas ou poucas estacas e drenagens, com TGV mais cedo ou mais tarde. Pois, está claro.
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