sexta-feira, 5 de maio de 2006

Tutelar a direita democrática

Não obstante ter outrora conquistado legitimamente mais de 15% do eleitorado português, o CDS tem vivido, nos últimos anos, numa amplitude real de expectativa de representar politicamente entre 5 a 10% dos cidadãos nacionais.
Tão nobre e legítima será a missão de ambicionar que um partido atinja o patamar dos dois dígitos da percentagem de votos, como a de pretender que ele venha a vencer eleições legislativas. Porém, actualmente, seria quase tão difícil ao CDS-PP concretizar um objectivo como o outro.
Para a assumpção do primeiro alvo, há de facto que discutir a liderança, a eficácia da sua imagem e da sua mensagem, a estratégia política para os próximos anos, as linhas programáticas e as medidas a propor ao País. Contudo, ter ainda maiores aspirações implicaria bastante mais. Passaria sobretudo por apostar num contexto de longo prazo, revitalizando os seus princípios doutrinários, valorizando claramente a sua identidade e, em última instância, obtendo o alargamento efectivo da sua base social de apoio.
Distanciar-se da franja mais à direita do espectro político nacional, que contenha qualquer leve conotação extremista, ao mesmo tempo que se descartam ininteligíveis e inconsequentes hífenes ao centro – centro esse que, por sua vez, toca a esquerda que sempre procurou combater – levaria provavelmente o CDS-PP a ser produtivamente visto como a única e verdadeira direita democrática portuguesa. No contexto contemporâneo de uma sociedade com uma razoável maturidade política como a nossa actualmente, esta clarificação poderia significar a opção por uma “auto-estrada” da política do futuro, abdicando de um conjunto de caminhos e atalhos que seguem razoavelmente uma direcção próxima da pretendida, mas que nunca se sabe exactamente onde o leva.
As várias eleições foram demonstrando inequivocamente que a similaridade das mensagens entre o CDS e o PSD apenas beneficia a posição deste e, pelo contrário, sacrifica o CDS numa importante faixa onde estas duas forças políticas disputam as preferências de voto. Daí que o CDS-PP tenha muito mais a ganhar em enveredar por uma mensagem diferenciada e fortemente conotada com as suas linhas ideológicas de base, que, apesar de declináveis em alguns pontos programáticos semelhantes, são claramente distintos dos do PSD.
Assumir definitiva e indubitavelmente a sua natureza de força política da direita democrática, sem eufemismos, sem amorfas posturas pseudo-abrangentes, sem sinuosas posições de conveniência pontual, seria provavelmente a primeira das etapas que o partido teria que deixar para trás de modo a aspirar a um reconhecimento novo e efectivo.
Ter a pretensão de abarcar simpatias provenientes de todo um centro-direita não pode deixar de parecer um passo maior do que a perna e favorece um esvaziamento de identidade, sobretudo aos olhos de quem apenas tem uma cruz para colocar no boletim de voto.
Tendo como certo que a nossa sociedade em geral, distante como está de discussões ideológicas como as que pontificaram na década de 70, não reconhece bem os princípios e a doutrina de cada força política, faria todo sentido que o partido, uma vez agarrada claramente a bandeira da direita democrática, se empenhe em explicar quais são os valores que o fazem mover, a si e à direita que abraçou, à luz dos quais se proporão então as estratégias, as políticas e as medidas para melhorar o País e a qualidade de vida dos seus concidadãos.
Finalmente, poderia ser particularmente pertinente que o CDS-PP analisasse até que ponto se prejudica por ser visto como a força partidária mais à direita do espectro político português, no universo das que possuem visibilidade pós-eleitoral. Esse facto não pode deixar de lhe ser negativo perante o vastíssimo eleitorado avesso a extremos e que procura ter uma atitude dita “equilibrada” nas escolhas que considera importantes. Para além de purgar completamente, como aliás tem pretendido geralmente fazer, qualquer manifestação de radicalismo, talvez se justifique deixar de ignorar forças políticas à sua direita. Procurar, por exemplo, contribuir para o acantonamento à direita de partidos como o PND, sem preocupação de evitar dar-lhes palco, poderia ser mais frutuoso e importante, a médio-longo prazo, do que as consequências negativas de qualquer temor em lhe serem retirados, no imediato, alguns votos à sua direita. Possivelmente, abrir-se-ia um campo de eleitorado, do seu lado esquerdo, bem mais amplo do que aquele.
Ganhar espaço eleitoral poderá pois passar por assumir a direita, explicar a direita e distanciar-se das fronteiras com áreas nas quais o partido não revê.
Até lá, vão-se repetindo congressos com elevada probabilidade de pouco ou nada mudarem…

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