terça-feira, 10 de abril de 2007

A ideia Ota


As discussões políticas, técnicas, económicas e financeiras acerca da construção do novo aeroporto de Lisboa acentuaram-se no preciso momento em que o INE divulgou a evolução real do défice orçamental do Estado em 2006. A nova operação de marketing por parte da profissionalíssima equipa de comunicação ao serviço do governo não terá tido, certamente, a intenção de fazer crer que afinal até poderemos ter meios libertos para financiar esse desígnio nacional chamado Ota, mas terá ajudado, de certa forma, a contrariar as teses desses “velhos do Restelo” que a consideram “um passo maior do que a perna”.
Será uma questão política essencialmente ou uma questão logística?
Deveria tratar-se de uma questão logística, com os seus óbvios reflexos no plano económico. Só depois de bem ponderada a problemática sob estes dois aspectos, logística e economicamente, seria legítimo avaliar o projecto dos pontos de vista técnico e financeiro. Mas, se se tratar de uma questão de natureza política, então avancemos sem grandes considerações.

Logisticamente, as primeiras interrogações deveriam ser:
1) Quando se esgota realmente a Portela? Quem nos garante que em 2013, 2017 ou 2030 haverá um fluxo de turistas, business travel, emigrantes/imigrantes ou passageiros acidentais assim tão elevado como nos fazem crer? Vendo casos como o “11 de Setembro” ou as profundas ameaças ao crescimento exponencial do preço do crude, poderemos prever com segurança se e quando o actual aeroporto se torna demasiadamente pequeno?
2) A impossibilidade física de crescimento brutal da Portela implicará que não se possam fazer adaptações/melhoramentos de forma a viabilizar um maior caudal de viajantes? Porque razão os balcões de check-in com números superiores ao 80 estão permanentemente vazios? Não fará todo o sentido fazer o melhor aproveitamento possível do espaço Portela, de forma a manter o fluxo de negócios e vôos de maior regularidade, deixando os eventuais défices de tráfego, charters turísticos incluídos, para outras paragens, mesmo que isso implique um novo pequeno aeroporto próximo da capital?
3) E porque razão se esgota alegadamente a Portela? Não haverá aqui influência de políticas cada vez mais centralistas que, para além dos legítimos interesses comerciais das companhias de aviação, induzam a que cada vez maior número de vôos tenham Lisboa como destino, ponto de partida ou de passagem obrigatória?
4) Será que o aeroporto Francisco Sá Carneiro está assim tão bem aproveitado e que não existe interesse comercial em ligar Porto a mais capitais europeias e da América Latina, aos Açores ou a mais cidades espanholas que não Madrid e Barcelona? E Faro, deve-se limitar estritamente aos voos charter turísticos e a uma singela ligação com Lisboa?
Política e especulativamente poderemos ainda interrogar-nos: promessas eleitorais e financiamentos de campanhas também contam para avultados desígnios nacionais como aeroportos ultra-modernos?

O que é certo é que já estão avançadas estas etapas e supostamente ultrapassadas estas questões sem que se tenham dado cabais esclarecimentos a elas. Já só se discute se vai haver Ota ou Rio Frio, com muitas ou poucas estacas e drenagens, com TGV mais cedo ou mais tarde. Pois, está claro.